Teorias da consipiração à parte, sabemos que no dia 11 de setembro de 2001 os EUA foram vítimas de um ataque organizado pela Al-Qaeda. Tendo sequestrado vários aviões, o seguidores de Osama bin Laden conseguiram arremessar dois deles contra as Torres Gêmeas e um contra o Pentágono. Um quarto avião, o United 93, caiu nas proximidades da cidade de Shanksville quando dirigia-se para um golpe mortal contra um dos principais símbolos políticos do governos norte-americano, a Casa Branca. Assim como tudo que envolve esse dia histórico, a queda do United 93 é cercada de controvérsias. Enquanto muitos teorizam sobre o abate da aeronave por caças da Força Aérea Americana, a versão oficial diz que os próprios passageiros do vôo rebelaram-se contra seus sequestradores e, em um gesto de heroísmo, jogaram-na contra o solo antes que ela atingisse o alvo, história que é contada pelo diretor Paul Greengrass (o responsável pela Trilogia Bourne) nesse longa cheio de tensão.
Quando digo “cheio de tensão”, não estou tentando provocar aquele efeito dos comerciais de filmes da Globo ou da capa de DVD’s de suspenses baratos. Recentemente, comecei a fazer o curso de controlador de vôo da INFRAERO e a familiarizar-me com a realidade do setor. Seria falácia, com apenas um mês de estudo, dizer que “senti na pele” o medo e a impotência dos controladores do filme diante dos ataques, mas é com toda sinceridade que digo que, com o que eu aprendi/ouvi/li até agora, fiquei verdadeiramente apavorado só de imaginar que aquela situação pudesse ocorrer comigo durante o trabalho.
Como todos sabem, os membros da Al-Qaeda renderam e mataram os pilotos das naves sequestradas e depois conduziram-nas até seus respectivos alvos. O filme começa do ponto onde um desses vôos, o American 11, começa a descumprir o plano de vôo. Quando o controlador de tráfego aéreo tenta comunicar-se com o piloto da aeronave, a fonia revela que a cabine foi invadida e que algo fora do comum aconteceu. Seguem-se várias tentativas infrutíferas de comunicação e o desvio da rota pré estabelecida, que começa com alterações não programadas do nível de vôo e culminam no desaparecimento do sinal da aeronave da tela do controlador. Enquanto isso e sem saber do ocorrido, o United 93 consegue finalmente decolar após uma longa espera, levando entre seus passageiros 4 homens que foram treinados para construir uma bomba à bordo, render o piloto e os passageiros e arremessar o avião contra a Casa Branca.
Não quero encher o saco do leitor com informações técnicas (muitas das quais, para falar a verdade, eu ainda nem tenho) sobre Controle de Tráfego Aéreo, então vou limitar-me a comentar sobre o desespero que é, para um controlador, perder o contato com uma aeronave. Não bastasse a preocupação de ser responsável pela vida das 150-200 pessoas à bordo, o profissional naquele momento ainda está responsável pela separação vertical, horizontal e lateral de, pelo menos, mais 15-20 aeronaves com mais 150-200 pessoas cada. O stress de uma situação dessas, aumentado pelas ameças ouvidas na fonia, pelo desvio da rota e, finalmente, pela perda do sinal, é algo incalculável. Não bastasse isso, os operadores da Torre de Controle de Manhattan ainda vêem uma das aeronaves chocarem-se contra uma das torres, ali, bem na frente deles. É o tipo de coisa que seguramente traumatiza qualquer um para o resto da vida.
Demonstrando profissionalismo e respeito pelas famílias das vítimas, o diretor Paul Greengrass foi o mais fiel possível em sua reconstituição dos eventos. Escalou atores relativamente desconhecidos para o papel dos passageiros e conseguiu que grande parte dos controladores e supervisores que trabalhavam durante o evento representassem seus próprios papéis. O resultado, pelo menos no que diz respeito as cenas fora do avião, é a representação de sentimentos genuínos de quem foi afetado pelo ataque. Anos depois, os controladores foram capazes de trazer à tona os sentimentos de incredulidade e pavor que eles sentiram quando vários aviões começaram a sair de suas rotas e perderem comunicação, situação que levou ao fechamento total do espaço áereo americano, local ondem acontecem cerca de 5000 vôos por dia.
Quanto ao que aconteceu dentro do avião, é um pouco mais complicado atestar a vericidade da versão de Greengrass. Algumas ligações foram feitas por passageiros para suas famílias e há as informações da caixa preta, mas até hoje não há provas concretas que, de fato, um motim heróico teria salvado a Casa Branca. Acreditando-se no que o diretor está contando, sua experiência inovadora com cenas de ação na Trilogia Bourne trabalha à favor das cenas e garante um clima constante de tensão e perigo. Em um determinado momento, os passageios SABEM que estão próximos da morte e que só lhes resta tentar salvar as vidas daqueles que estão no solo. É interessante notar nesse ponto o trabalho do diretor para compor diferentes tipos de reações diante da morte, há desde aqueles que desesperam-se completamente até aqueles que procuram ser racionais e verem o que ainda pode ser feito com os últimos minutos que lhes restam.
Independente do seu conhecimento/interesse sobre tráfego aéreo e daquilo que tu acredita que tenha acontecido naquele dia, Vôo United 93 é um ótimo filme de suspense que, mesmo começando com um final conhecido, é capaz de manter o interesse do espectador pela competência de seu diretor.