Arquivo da tag: Teoria da Conspiração

Vôo United 93 (2006)

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Teorias da consipiração à parte, sabemos que no dia 11 de setembro de 2001 os EUA foram vítimas de um ataque organizado pela Al-Qaeda. Tendo sequestrado vários aviões, o seguidores de Osama bin Laden conseguiram arremessar dois deles contra as Torres Gêmeas e um contra o Pentágono. Um quarto avião, o United 93, caiu nas proximidades da cidade de Shanksville quando dirigia-se para um golpe mortal contra um dos principais símbolos políticos do governos norte-americano, a Casa Branca. Assim como tudo que envolve esse dia histórico, a queda do United 93 é cercada de controvérsias. Enquanto muitos teorizam sobre o abate da aeronave por caças da Força Aérea Americana, a versão oficial diz que os próprios passageiros do vôo rebelaram-se contra seus sequestradores e, em um gesto de heroísmo, jogaram-na contra o solo antes que ela atingisse o alvo, história que é contada pelo diretor Paul Greengrass (o responsável pela Trilogia Bourne) nesse longa cheio de tensão.

Quando digo “cheio de tensão”, não estou tentando provocar aquele efeito dos comerciais de filmes da Globo ou da capa de DVD’s de suspenses baratos. Recentemente, comecei a fazer o curso de controlador de vôo da INFRAERO e a familiarizar-me com a realidade do setor. Seria falácia, com apenas um mês de estudo, dizer que “senti na pele” o medo e a impotência dos controladores do filme diante dos ataques, mas é com toda sinceridade que digo que, com o que eu aprendi/ouvi/li até agora, fiquei verdadeiramente apavorado só de imaginar que aquela situação pudesse ocorrer comigo durante o trabalho.

Como todos sabem, os membros da Al-Qaeda renderam e mataram os pilotos das naves sequestradas e depois conduziram-nas até seus respectivos alvos. O filme começa do ponto onde um desses vôos, o American 11, começa a descumprir o plano de vôo. Quando o controlador de tráfego aéreo tenta comunicar-se com o piloto da aeronave, a fonia revela que a cabine foi invadida e que algo fora do comum aconteceu. Seguem-se várias tentativas infrutíferas de comunicação e o desvio da rota pré estabelecida, que começa com alterações não programadas do nível de vôo e culminam no desaparecimento do sinal da aeronave da tela do controlador. Enquanto isso e sem saber do ocorrido, o United 93 consegue finalmente decolar após uma longa espera, levando entre seus passageiros 4 homens que foram treinados para construir uma bomba à bordo, render o piloto e os passageiros e arremessar o avião contra a Casa Branca.

Controladores de Vôo

Não quero encher o saco do leitor com informações técnicas (muitas das quais, para falar a verdade, eu ainda nem tenho) sobre Controle de Tráfego Aéreo, então vou limitar-me a comentar sobre o desespero que é, para um controlador, perder o contato com uma aeronave. Não bastasse a preocupação de ser responsável pela vida das 150-200 pessoas à bordo, o profissional naquele momento ainda está responsável pela separação vertical, horizontal e lateral de, pelo menos, mais 15-20 aeronaves com mais 150-200 pessoas cada. O stress de uma situação dessas, aumentado pelas ameças ouvidas na fonia, pelo desvio da rota e, finalmente, pela perda do sinal, é algo incalculável. Não bastasse isso, os operadores da Torre de Controle de Manhattan ainda vêem uma das aeronaves chocarem-se contra uma das torres, ali, bem na frente deles. É o tipo de coisa que seguramente traumatiza qualquer um para o resto da vida.

Demonstrando profissionalismo e respeito pelas famílias das vítimas, o diretor Paul Greengrass foi o mais fiel possível em sua reconstituição dos eventos. Escalou atores relativamente desconhecidos para o papel dos passageiros e conseguiu que grande parte dos controladores e supervisores que trabalhavam durante o evento representassem seus próprios papéis. O resultado, pelo menos no que diz respeito as cenas fora do avião, é a representação de sentimentos genuínos de quem foi afetado pelo ataque. Anos depois, os controladores foram capazes de trazer à tona os sentimentos de incredulidade e pavor que eles sentiram quando vários aviões começaram a sair de suas rotas e perderem comunicação, situação que levou ao fechamento total do espaço áereo americano, local ondem acontecem cerca de 5000 vôos por dia.

Quanto ao que aconteceu dentro do avião, é um pouco mais complicado atestar a vericidade da versão de Greengrass. Algumas ligações foram feitas por passageiros para suas famílias e há as informações da caixa preta, mas até hoje não há provas concretas que, de fato, um motim heróico teria salvado a Casa Branca. Acreditando-se no que o diretor está contando, sua experiência inovadora com cenas de ação na Trilogia Bourne trabalha à favor das cenas e garante um clima constante de tensão e perigo. Em um determinado momento, os passageios SABEM que estão próximos da morte e que só lhes resta tentar salvar as vidas daqueles que estão no solo. É interessante notar nesse ponto o trabalho do diretor para compor diferentes tipos de reações diante da morte, há desde aqueles que desesperam-se completamente até aqueles que procuram ser racionais e verem o que ainda pode ser feito com os últimos minutos que lhes restam.

Independente do seu conhecimento/interesse sobre tráfego aéreo e daquilo que tu acredita que tenha acontecido naquele dia, Vôo United 93 é um ótimo filme de suspense que, mesmo começando com um final conhecido, é capaz de manter o interesse do espectador pela competência de seu diretor.

Os passageiros tentam decidir o que fazer

O Hospedeiro (2006)

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Antes de qualquer coisa, assistam esse vídeo. Legal, né? Para quem não conhece, vale a pena digitar “cinemassacre” no youtube e conferir os vídeos deles, narração e edição nota 10.

O primeiro monstro que aparece no vídeo, a criatura verde que está correndo e brincando de boliche com os coreanos do caminho, é a principal atração de O Hospedeiro, filme escrito e dirigido pelo Joon-ho Bong, o mesmo dos ótimos Memórias de um Assassino e Mother – A Busca Pela Verdade. O monstro, que Joon-ho maldosamente apelidou de Steve Buscemi durante a produção, teria nascido de um acidente biológico provocado por um americano que ordenou seu assistente a jogar um produto químico nas águas de um rio. Isso mesmo, sem mais nem menos. Mais bizarro do que a aparência do monstro e do que esse roteiro aparentemente fajuto é o fato de que isso (a contaminação de um rio nessas circunstâncias) realmente aconteceu em fevereiro de 2000 na cidade de Seoul. Referência mais do que direta, o diretor usa o monstro e o rastro de destruição deixado por ele como uma metáfora para os problemas gerados pelo episódio, aproveitando a oportunidade para ironizar o governo e sua incapacidade de lidar com situações inesperadas.

Para não ficar só no esquema “monstro tocando o terror”, O Hospedeiro conta a história de uma família que começa a desintegrar-se no momento do ataque. O pai interpretado pelo ator Kang-ho Song (que, assim como o Ricardo Darín, parece estar em todos os filmes de seu país) separa-se da filha durante o ataque do monstro  e assiste impotente aquilo que parece ser a morte da garota. A trama desenvolve-se para um contexto onde a família da menina recebe notícias que indicam que ela pode estar viva mas ficam impedidos de saírem para procurá-la devido a uma quarentena imposta pelo governo para todos aqueles que tiveram contato com a criatura. Enquanto isso, o “Buscemi” continua fazendo vítimas e espalhando o terror.

Indo direto ao ponto: todas as cenas do monstro são bacanas e interessantes, pena não podemos dizer o mesmo daquelas que envolvem a tal família. Os efeitos especiais usados para dar vida ao monstro (excluindo, obviamente, a cena final com o fogo a la nintendinho) são convincentes e bem executados, de fato o monstro merece estar em um top 10 como o do vídeo do início do texto. O restante da história não compromete mas, salvo as especificidades típicas do cinema oriental, não traz muito coisa além do trivial, eu destacaria apenas o potencial de uma personagem que usa um arco e flecha, nada mais.

Com longas 2 horas e um roteiro relativamente simples que entrega seu principal trunfo (a aparição do monstro) antes dos 10min iniciais, O Hospedeiro tende a tornar-se tedioso. Menos espaço para choradeira e teorias da conspiração e mais cenas com o “stevinho”, eis como esse filme poderia ter ficado bem mais divertido.

Olhando por esse ângulo, nem da pra classificar o apelido como “maldade”…

Contágio (2011)

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Quando rolou toda aquela confusão da gripe suína, eu fiquei do lado do grupo que não viu motivo para entrar em pânico, usar máscaras protetoras ou tomar banho em álcool em gel. Lembro perfeitamente de receber emails falando de conspirações do governos para esconder a gravidade do problema (alguns com prints do Google Maps com imagens do que seria uma estoque gigantesco de caixões comprados pelos EUA) e de um cidadão querendo brigar comigo porque eu espirrei em um local público. Eu JURO que não foi por querer.

Em Contágio, fala-se da gripe suína como um problema que já foi superado. A americana interpretada pela Gwyneth Paltrow viaja para o leste asiático e retorna para casa contaminada com um novo tipo de vírus. Tudo aquilo que temeu-se relacionado ao H1N1 então torna-se realidade: o vírus espalha-se com uma taxa de mortalidade altíssima, a população entra em pânico e o governo, incapaz de encontrar a cura, mostra-se inábil para lidar com o caos social que instala-se no mundo.

As referências não poderiam ser mais claras: Contágio é um exercício imaginativo do diretor Steven Soderbergh sobre as consequências da proliferação de um vírus desconhecido no mundo. Pegando carona em nossa experiência recente com a gripe suína, Soderbergh usa de sua tradicional não-linearidade temporal para ir e voltar no tempo intercalando os vários estágios do comportamento humano frente aquilo que é novo. A doença, que inicialmente é tratada com ceticismo até mesmo pelos jornalistas, evolui em uma velocidade impressionante, pega todo mundo de surpresa e provoca reação variadas na população: temos aqueles que procuram encarar tudo da forma mais objetiva possível, temos aqueles que procuram ganhar dinheiro com a situação, pessoas cujo instinto de sobrevivência levam-nas a cometer loucuras e aqueles que tentam fazer algo para resolver o problema.

Acreditem: essa mulher é um dos personagens mais chatos dos últimos anos

Gostei muito da forma como o Soderbergh abordou os vários pontos de vista pertinentes a esse tipo de situação, ele não desconsidera a preocupação e o medo frente ao desconhecido nem deixa de mostrar o quão perigoso o pânico e a histeria coletiva podem ser. O final fatalista e sombrio e a quantidade de atores renomados que o diretor manda para o saco preto também merecem palmas.

Apesar dos bom cast (Matt Damon, Kate Winslet, Marion Cotillard, Laurence Fishburne, Gwyneth Paltrow, Jude Law) e do argumento atual e bem desenvolvido, fiquei com a impressão de que faltou alguma coisa no filme: não sei se a conclusão (não a cena final, esta é genial) da história é pouco ousada ou se é porque os acontecimentos do filme seguem um curso deveras óbvio disfarçado pela quebra da linha temporal, o fato é que eu saí do cinema com a impressão de que Contágio poderia render mais. Vale o ingresso, mas não é o tipo de filme que eu vou lembrar daqui um ano.

Todos os Homens do Presidente (1976)

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Quando assisti o Nixon do Oliver Stone, comentei que o diretor não aborda diretamente o famoso caso Watergate, optando mais por mostrar as consequências políticas que o episódio teve para a carreira daquele que foi o único presidente norte americano a renunciar. Todos os Homens do Presidente, filme seminal para estudantes de jornalismo, também não é uma dramatização direta sobre Watergate no sentido de reproduzir os acontecimentos do caso, até porque sobre esses não há muito o que se discutir:  membros do partido republicano invadiram a sede de campanha do partido democrata (localizada no Hotel Watergate) para roubar informações e implantar equipamentos de escuta durante a campanha presidencial de 1972. Feito no “calor do momento” (Nixon renunciou em 1974), o filme dirigido por Alan J. Pakula optou também por explorar as consequências do episódio, só que aqui o foco não é o presidente, mas sim o poder responsável por sua queda: a imprensa.

Todos os Homens do Presidente é baseado no livro homônimo dos jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein. Trabalhando para o jornal Washington Post, os dois seguiram pistas que indicavam que a Casa Branca poderia ter participado diretamente do caso Watergate. Bob (Robert Redford) encontra-se regularmente com a fonte anônima conhecida como Garganta Profunda, um homem misterioso que leva-o a acreditar que o assalto ao Partido Democrata fora financiado com dinheiro proveniente do fundo de campanha de Nixon. Bob leva tais informações para Carl (Dustin Hoffman) e os dois passam a investigar e entrevistar (ou pelo menos tentar) todas as pessoas ligadas a Watergate. A medida que eles vão conseguindo algum progresso, a pressão do governo aumenta, pessoas negam o que antes haviam confirmado e a Casa Branca dá declarações públicas criticando os jornalistas. Firmes em seus propósitos, Bob e Carl seguem com a investigação e influenciam diretamente um dos acontecimentos mais polêmicos da história dos EUA.

Pela distância temporal que nos separa do episódio, pelo conteúdo do mesmo e pelo tom documental usado por Pakula, torna-se óbvio dizer que Todos os Homens do Presidente não é indicado para quem busca entretenimento fácil. Com uma infinidade de citações, personagens e nomes que muitas vezes não são acompanhados de um rosto, Todos os Homens do Presidente exige muito do espectador e o que ele oferece em troca (e oferece muito) certamente não é o que a maioria das pessoas busca em um filme. Tal constatação é verdadeira mas vaga, então falarei por mim: aprendi muito assistido e reconheço o valor do material enquanto arte e enquanto instrumento político, mas não é o tipo de filme que eu veria mais de uma vez.

O Pecado Mora ao Lado (1955)

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Comecei o texto do O Grande Ditador dizendo que todo mundo reconhece a imagem do Charles Chaplin mas que poucas pessoas assistiram seus filmes. Repito o comentário para a Marilyn Monroe: o rosto angelical, a boca sensual ressaltada pelo batom vermelho, a inconfundível pinta do lado esquerdo do rosto e as pernas torneadas reveladas pelo vestido içado pelo vento ainda são facilmente reconhecidos quase 50 anos após a morte da atriz, morte essa que, aliás, contribuiu para o processo de mitificação de Marilyn devido as suspeitas e teorias da conspiração que a cercam. É difícil, no entanto, encontrar alguém que saiba o nome de algum filme dela.

Disposto a começar a conhecer o trabalho da atriz, procurei exatamente pelo filme “da cena do vestido”. O Pecado Mora ao Lado é uma comédia romântica de 1955 dirigida pelo respeitado Billy Wilder (Testemunha de Acusação) baseada em uma peça teatral da Broadway. O título original, The Seven Year Itch (algo como A Coceira dos Sete Anos) dá uma boa idéia sobre o roteiro: Richard Sherman (Tom Ewell) é um americano de meia idade cuja família acaba de sair de férias. Casado há 7 anos, Richard orgulha-se de não encaixar-se no esteriótipo do marido que farreia e trai a mulher durante as férias de verão. Sozinho em casa, o personagem tem sucesso em manter sua mente ocupada até o momento em que ele depara-se com a nova garota do apartamento de cima (Marilyn Monroe). Richard passa então a manifestar sintomas da Coceira dos 7 anos, comportamento que um psicólogo do filme define como um desejo que a maioria dos homens tem de trair após 7 anos de relacionamento. Richard trava então uma divertida batalha psicológica contra seus instintos que praticamente o empurram para os braços da vizinha.

O Pecado Mora ao Lado não dá base para comentários sobre a qualidade da Marilyn enquanto atriz. Interpretando uma loira burra clássica, Marilyn faz o óbvio. Óbvio também é o comentário que exalta a beleza da atriz, mas seria um erro não repetí-lo aqui: é simplesmente impossível ficar indiferente as curvas e ao sorriso de Marylin, não há dúvidas que ela foi uma das mulheres mais bonitas de todos os tempos.

Longe de depender apenas dessa beleza, O Pecado Mora ao Lado tem um texto repleto de referências a outros filmes da época (meu repertório do período não é tão extenso, mas identifiquei uma citação bem humorada do A Um Passo da Eternidade), boas piadas de uma guerra de sexos que provavelmente nunca envelhecerá e, claro, a antológica cena do vestido. Ótimo filme.

"A" cena

“A” cena

O Informante (1999)

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Algumas das maiores frustrações da minha vida foram descobrir que:

  1. Os caras do Aerosmith usavam (?) drogas.
  2. Meninas não dão valor em um save de Final Fantasy X com mais de 180 horas.
  3. A imparcialidade não existe.

Qualquer pessoa que tenha lido um ou dois textos sobre subjetividade e imparcialidade sabe que a simples escolha do tema que será desenvolvido/publicado implica necessariamente adotar uma posição. Colocar o Luciano Huck e a Angélica na capa de uma das revistas de maior circulação nacional enquanto uma revolução ocorria no Egito, por exemplo, foi uma escolha, um posicionamento. Tomamos decisões o tempo todo, escolhemos certas coisas em detrimento de outras, mas existem casos onde essas escolhas podem ser feitas com a intenção clara de manipular a opinião pública, como no famoso caso da edição do debate entre Collor e Lula de 1989 feito pela Rede Globo que influenciou diretamente no resultado da eleição.

O Informante, dirigido pelo Michael Mann, é um filme que toca nessa questão da responsabilidade que a imprensa tem que ter na relação com o público. Jeffrey Wingand (Russell Crowe) começa o filme sendo despedido do cargo  de vice presidente de uma empresa da indústria do tabaco. Ao mesmo tempo, o jornalista Lowell Bergman (Al Pacino) recebe um dossiê contendo informações técnicas que poderiam comprovar que as indústrias estavam manipulando a nicotina nos cigarros para viciar os consumidores. Bergman procura Wingand e pede para que ele o ajude no caso. Quando Wingand revela que conhece segredos que poderiam encriminar e responsabilizar os donos das empresas, Bergman decide gravar uma entrevista com o ex-vice presidente para revelar ao mundo aquilo que ele considera um “caso de saúde pública”. Wingand, que tinha um contrato de confidencialidade com sua ex-empresa, passa a sofrer ameças e é vítima de campanhas de desmoralização pública. Bergman, ao tentar levar a entrevista ao ar, percebe que interesses econômicos interpõe-se entre o público e a “verdade”.

O Informante pode até ter a pegada de filmes de teoria da conspiração mas, salvo as adaptações feitas para valorizar o drama, ele é baseado na história real da luta de Jeffrey Wingand contra a Brown & Williamson, uma das gigantes da indústria do tabaco dos EUA que teriam despedido Wingand por ele discordar do uso nos cigarros de substâncias cancerígenas. O filme de Mann é baseado nas informações do próprio Wingand, as quais também não podem ser aceitas integralmente (tanto que o diretor não aceitou, mudando várias coisas e personagens, o que causou polêmica na época do lançamento) porque ele envolveu-se emocionalmente no processo. Por mais que a dramatização simplifique o problema colocando dois heróis contra um vilão representado pelo “sistema” em uma disputa emocionante repleta de discursos inflamados e pessoas inescrupulosas, o grande mérito do filme é instigar o espectador a analisar as fontes das notícias que chegam até ele e considerar que, muitas vezes, não há apenas o interesse de informar por trás de tais notícias.

Mann conduz bem o espectador ao longo das 2h37min de filme. Tendo estruturado a história em cima dos diálogos e das atuações magníficas de Pacino e Crowe, o diretor não comete os tradicionais usos de câmeras de mão e zooms explícitos, tendência que infelizmente ele não seguiu em seus trabalhos posteriores. Acredito que, mesmo para quem não gosta de História e Jornalismo, O Informante é um filme gostoso de ser assistido, sem dúvida um dos melhores trabalhos do diretor.

OBS: Apesar dos pesares, OBRIGADO a Veja por ESCOLHER esse filme para ser lançado na Coleção Cinemateca Veja e ao amigo Antônio Carlos por me presentear com uma cópia =)

Colapso (2009)

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Em um determinado momento desse documentário, o entrevistado Michael Ruppert fala sobre uma situação hipotética envolvendo o naufrágio do Titanic: imaginemos que uma pessoa soubesse que o navio iria afundar e que não havia botes salva vidas suficientes para salvar todos. Segundo Ruppert, o aviso dessa pessoa dividiria os tripulantes em 3 grupos distintos:

  • Pessoas que entrariam em pânico e não saberiam o que fazer.
  • Pessoas que ouviriam o aviso, olhariam ao redor e, confirmando que a quantidade de botes não seria suficiente para todos, organizariam-se para construir outros botes e pensar em formas de salvarem-se.
  • Pessoas que ignorariam o aviso e iriam para o bar beber, afinal de contas “nem deus pode afundar o Titanic”.

Colapso é um documentário feito a partir de uma entrevista com Michael Ruppert, um ex-policial de LA e bacharel em Ciências Políticas que há cerca de 30 anos desenvolve um trabalho investigativo sobre o esgotamento das reservas mundiais de petróleo e como isso provocará, segundo ele, o colapso da nossa forma de vida atual.

A primeira coisa que vem a cabeça é “teoria da conspiração”, certo? Pois saiba que o diretor Chris Smith, que aparece no documentário entrevistando Ruppert, parte do princípio que o que está sendo falado provocará essa reação no espectador. Em 95% do tempo, escutamos Ruppert falando sobre como é necessário economizar energia e nos acostumarmos com a idéia de que uma hora simplesmente não poderemos mais desfrutar do uso de combustíveis fósseis e seus derivados. Nos outros 5% do tempo, Smith conduz a teoria de Ruppert com perguntas feitas com um timing perfeito, ele pergunta exatamente aquilo que estamos nos perguntando enquanto assistimos.

Independente de concordamos com Ruppert ou não, de acharmos ele alarmista, “extremamente perigoso” ou pessimista, é necessário reconhecer que ele parte de um princípio inquestionável: a sociedade baseada no consumo de petróleo está com os dias contados e é necessário, como ele mesmo diz, educar nossas mentes para a possibilidade de enfrentarmos uma época de privações e mudanças drásticas se não encontrarmos uma fonte de energia que substitua o petróleo. Ruppert critica cada uma das apostas em fontes de energia alternativa, dizendo que todas elas necessitam do petróleo em alguma etapa entre a fabricação e o consumo. O etanol, por exemplo, é mostrado como um combustível ineficaz do ponto de vista custo/benefício.

A carência de conhecimento técnico da maioria do público (e me incluo aqui) trabalha favoravelmente ao entrevistado, mas nem por isso devemos acreditar em tudo que é falado ou simplesmente descartar tudo. Muito provavelmente não viveremos para enfrentar as consequências de décadas de consumo desenfreado e destruição das reservas naturais do planeta, mas nem por isso devemos deixar de lado as questões que Ruppert coloca a respeito da necessidade de reconhecermos que haverá consequências para um modo de vida baseado em um conceito errôneo de progresso infinito. Recomendo.