Além do Vale das Ultra-Vixens (1979)

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ALÉM DO VALE DAS ULTRA-VIXENSPensei muito se valia a pena gastar tempo e energia para resenhar este filme. Acabei de retomar as atividades por aqui, de modo que o momento não é lá dos mais adequados para queimar os neurônios com produções pouco convencionais. Porém, obviamente, se vocês estão lendo este texto é porque a parte pervertida e aventureira que existe em mim venceu o embate contra o bom senso, logo vamos lá: este é, provavelmente, o filme mais próximo de uma produção pornográfica que já apareceu por aqui. 😆

É verdade que, olhando de 2020, seria um erro classificar Além do Vale das Ultra-Vixens simplesmente como um filme pornô. A produção é um produto fiel do exploitation, gênero cinematográfico pouco conhecido da atual geração mas que fez sucesso considerável na década de 70. A ideia do estilo era recorrer gratuitamente a elementos como sexo, violência, drogas e demais esquisitices com o intuito de chocar o público e gerar o interesse pelo longa através do sensacionalismo. Em comum, essas produções ainda tinham a ausência de grandes astros e o baixo orçamento. Atualmente, esse gênero, que já ocupou grande parte das telas de drive-ins americanos, resiste no circuito underground e em “homenagens” que diretores como Quentin Tarantino e Robert Rodriguez lhes prestam quando emulam o estilo ou resgatam atores que fizeram carreira naquelas produções, sendo o retorno da Pam Grier no Jackie Brown e o Projeto Grindhouse os exemplos mais conhecidos.

Foi por isso que coloquei Além do Vale das Ultra-Vixens para rodar. Juro pra vocês que a intenção não era assistir um filme pornô 😆 . Acontece que o diretor do filme, um cara safadão chamado Russ Meyer, hoje é considerado “cult”, tendo uma de suas produções (Faster, Pussycat! Kill, Kill), inclusive, sido relacionada no famoso guia de cinema “1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer” do Steven Jay Schneider. Alguns títulos dele, aliás, já apareceram por aqui, a saber: Motor Psycho, Cherry, Harry&Raquel!, e Up!. Mesmo dizendo isso tudo, porém, fiquei com receio de escrever porque, desta vez, há realmente muito pouco a ser comentado além da parte pornográfica do material. Os títulos que citei anteriormente, minimamente, tinham uma ou outra cena que fugia um pouco do erotismo (seja em termos de violência, seja em termos de bizarrice), o que praticamente não ocorre aqui. Isto posto, optei por fazer a resenha pelo desafio de “tirar um coelho da cartola”, e vou fazer isso da forma mais direta e crua possível, tal qual o faz a galera obscura que habita a sessão de comentários do Xvídeos.

ALÉM DO VALE DAS ULTRA-VIXENS - CENA 1

A trama, como o narrador repete insistentemente, se passa em Small Town, uma cidade pequena (duh!) e comum dos Estados Unidos. Ali, pessoas que poderiam ser os seus ou os meus vizinhos vivem suas vidas comuns, lutando para colocar o pão na mesa e para ter alguma felicidade conjugal. Há um casal, porém, que está passando por algumas… dificuldades. “Prontos? Abram-se, portas do inferno!” A questão aqui é que o bem dotado Lamar (Ken Kerr) só consegue ter prazer sexual quando sodomiza a mulher, a fogosa Lavonia (Kitten Natividad). Sem saber como lidar com esse grande problema (!!!), Lavonia passa a evitar o marido, saciando o seu desejo incontrolável por sexo com praticamente todos os outros homens de Small Town. Acontece, porém, que ninguém em Small Town tem as mesmas “qualidades” de Lamar, logo a personagem tenta curar o marido de sua tara pela porta dos fundos para devolver a felicidade ao seu lar.

Resumindo, é um filme em que uma mulher quer convencer o marido a desistir do sexo anal. Uma hora e meia disso. Nas poucas cenas em que Lavonia e seus seios enormes não está pulando em cima de um cara mais horroroso do que o outro (tem um caixeiro viajante que é um monumento a feiúra), ela tenta fantasiar-se de uma prostituta mexicana com nome de Lola Langusta para “curar” Lamar. Nessa hora, numa das poucas cenas dignas de nota pelo humor trash, o narrador zomba de Lamar, falando que “um homem com um QI de 37 não seria capaz de reconhecer a própria mulher se ela colocasse uma peruca e forçasse um sotaque espanhol”. O pior de tudo é que o narrador está certo: mesmo jogando um copo de cerveja na cara do marido, Lavonia não é reconhecida por ele. Lamar vacilão.

ALÉM DO VALE DAS ULTRA-VIXENS - CENA 2

Lavonia, no entanto, não desiste. Lavônia é incansável, na cama e em seus propósitos. Entre uma e outra pulada de cerca, ela ainda leva Lamar para consultar com um dentista que é terapeuta de casais (!!!) e para tentar uma terapia espiritual com uma radialista da voz sexy. A ida ao dentista é, sem sombra de dúvidas, o ponto alto da loucura por aqui: o cara revela-se homossexual e, enquanto Lavonia promove uma briga de aranhas com a secretária dele, Lamar precisa escapar das investidas do sujeito escondendo-se em um armário. Piada pronta, o cara pega uma motosserra (!!!) e começa a retalhar a porta do móvel, dizendo: “Hey, Lamar! É hora de sair do armário!”. Sangue de Jesus tem poder! A radialista, que é peitudona tal qual todas as mulheres presentes nos filmes do Russ Meyers, transa com Lamar e transmite o ato ao vivo (!!!) para todos os seus ouvintes, pedindo para que eles enviem grana para ela durante o processo. Espero, sinceramente, que o Silas Malafaia nunca assista esse filme.

Além do Vale das Ultra-Vixens é ruim demais. Mesmo considerando a proposta do exploitation, o humor dele é ruim e as cenas de sexo são repetitivas. Qualquer filme do Russ Meyer que citei aqui, até o fraquíssimo Cherry, Harry&Raquel é mais indicado caso a intenção seja conhecer o gênero. Ah, caso você também tenha tido essa curiosidade, o “Vixen” do título refere-se ou a “raposa fêmea” ou a “megera”, que é uma mulher perversa, ruim. Nada a ver, portanto, com a Vixen que produz entretenimento adulto atualmente, produtora que conheço só de ouvir falar e da qual eu nunca assisti nada.

ALÉM DO VALE DAS ULTRA-VIXENS - CENA 3

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