Quando rolou toda aquela confusão da gripe suína, eu fiquei do lado do grupo que não viu motivo para entrar em pânico, usar máscaras protetoras ou tomar banho em álcool em gel. Lembro perfeitamente de receber emails falando de conspirações do governos para esconder a gravidade do problema (alguns com prints do Google Maps com imagens do que seria uma estoque gigantesco de caixões comprados pelos EUA) e de um cidadão querendo brigar comigo porque eu espirrei em um local público. Eu JURO que não foi por querer.
Em Contágio, fala-se da gripe suína como um problema que já foi superado. A americana interpretada pela Gwyneth Paltrow viaja para o leste asiático e retorna para casa contaminada com um novo tipo de vírus. Tudo aquilo que temeu-se relacionado ao H1N1 então torna-se realidade: o vírus espalha-se com uma taxa de mortalidade altíssima, a população entra em pânico e o governo, incapaz de encontrar a cura, mostra-se inábil para lidar com o caos social que instala-se no mundo.
As referências não poderiam ser mais claras: Contágio é um exercício imaginativo do diretor Steven Soderbergh sobre as consequências da proliferação de um vírus desconhecido no mundo. Pegando carona em nossa experiência recente com a gripe suína, Soderbergh usa de sua tradicional não-linearidade temporal para ir e voltar no tempo intercalando os vários estágios do comportamento humano frente aquilo que é novo. A doença, que inicialmente é tratada com ceticismo até mesmo pelos jornalistas, evolui em uma velocidade impressionante, pega todo mundo de surpresa e provoca reação variadas na população: temos aqueles que procuram encarar tudo da forma mais objetiva possível, temos aqueles que procuram ganhar dinheiro com a situação, pessoas cujo instinto de sobrevivência levam-nas a cometer loucuras e aqueles que tentam fazer algo para resolver o problema.
Gostei muito da forma como o Soderbergh abordou os vários pontos de vista pertinentes a esse tipo de situação, ele não desconsidera a preocupação e o medo frente ao desconhecido nem deixa de mostrar o quão perigoso o pânico e a histeria coletiva podem ser. O final fatalista e sombrio e a quantidade de atores renomados que o diretor manda para o saco preto também merecem palmas.
Apesar dos bom cast (Matt Damon, Kate Winslet, Marion Cotillard, Laurence Fishburne, Gwyneth Paltrow, Jude Law) e do argumento atual e bem desenvolvido, fiquei com a impressão de que faltou alguma coisa no filme: não sei se a conclusão (não a cena final, esta é genial) da história é pouco ousada ou se é porque os acontecimentos do filme seguem um curso deveras óbvio disfarçado pela quebra da linha temporal, o fato é que eu saí do cinema com a impressão de que Contágio poderia render mais. Vale o ingresso, mas não é o tipo de filme que eu vou lembrar daqui um ano.