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Argo (2012)

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Argo“Ben Affleck é melhor como diretor do que como ator”. Livro-me logo do clichê (verdadeiro, diga-se de passagem) para concentrar-me nesse excelente filme que venceu ontem (13/01) o Globo de Ouro na categoria Melhor Filme – Drama.

Com uma animação construída através do uso de story boards, Ben Affleck começa Argo recapitulando parte da história recente do Irã. Resumidamente, em 1979 o Aiatolá Khomeini tomou o poder apoiado por uma revolução popular e obrigou o xá Mohammad Pahlavi, o ditador que governava o país até então, a buscar exílio nos EUA. Desejosos de enforcarem julgarem Pahlavi por seus crimes políticos, os revolucionários cercam a embaixada americana no Irã e exigem que o criminoso lhes seja devolvido. Como os norte-americanos recusam-se a expatriar o xá, os membros da embaixada são feitos reféns. No meio do caos da invasão, 6 americanos conseguem escapar e esconderem-se na embaixada canadense. E agora, quem poderá protegê-los?

Calma, não criemos pânico, o Ben Affleck está aqui tanto para simplificar ao máximo essa crise diplomática para o espectador quanto para, interpretando o ex-agente da CIA Tony Mendez, encontrar uma forma segura de tirar esses 6 infelizes do solo iraniano. Didático, o diretor liga nomes a rostos e não enche a trama com detalhes políticos desnecessários para a sua compreensão (aprendeu, Sra. Bigelow?). Pragmático, Mendez argumenta contra propostas absurdas de operações de resgate sugeridas por membros do governo (entre elas, retirar os reféns do país usando bicicletas rs) para, em seguida, sugerir algo mais absurdo ainda: ele viajaria até o Irã como um produtor de cinema para rodar um filme de ficção científica e os 6 reféns passariam-se por membros de sua equipe, retornando com ele para os EUA assim que as filmagens terminassem.

O ensaio de uma mentira: Mendez combina com os reféns os detalhes de um filme que não será rodado

O ensaio de uma mentira: Mendez combina com os reféns os detalhes de um filme que não será rodado

Argo (que também é o nome do filme de ficção científica falso proposto por Mendez) por mais incrível que pareça, é baseado em fatos reais. Diante da crise diplomática aparentemente sem solução entre EUA e Irã no final da década de 70, um agente da CIA buscou ajuda junto a um profissional de Hollywood (no caso, o maquiador John Chambers, a mente por trás do trabalho fantástico realizado no O Planeta dos Macacos) e, manipulando a mídia a seu favor, divulgou que estava viajando para o Oriente Médio para procurar locações para rodar seu longa.

Apoiando-se na metalinguagem e em uma boa seleção de músicas do período (Dire Straits, Aerosmith e Led Zeppelin podem ser ouvidos durante a projeção), Ben Affleck criou um filme tenso e divertido de assistir. O plano de fuga não é considerado absurdo somente por quem está assistindo, praticamente todos os personagens do filme temem pelo destino da operação e isso cria ótimas cenas de perigo como o primeiro dia de filmagem no mercado e toda a sequência final com os apuros no aeroporto. Particularmente, gostei de ver o trabalho dos controladores de vôo iranianos e, com algum conhecimento de causa, afirmo que a reconstituição ali beirou a perfeição.

Goodman, Arkin e Affleck

Goodman, Arkin e Affleck

Quando mostram os bastidores hollywoodianos, diretor e roteiristas demonstram conhecimento e carinho pela indústria cinemaográfica e dão ao espectador a chance de sentir-se recompensado por conhecer os temas tratados. A piada com o Rock Hudson não fará sentido para quem não souber sobre os escândalos envolvendo a homossexulidade do ator. A leitura do roteiro fictício de Argo esconde uma divertida crítica ao gênero e a mídia do período (reparem nos jornalistas caricatos). A discussão entre Lester Siegel (Alan Arkin, indicado ao Oscar pela interpretação) e o dono de uma produtora também é empolgante, um daqueles duelos de arrogância e egos inflados corriqueiros no ramo que aqui é coroado por uma referência ao lendário Warren Beatty.

Simplifica o aspecto político do roteiro em nome de uma narrativa fluída e preenche a tela com cultura pop e detalhes para os fãs de cinema mais exigentes, eis o trabalho que rendeu ao Ben Affleck o Globo de Ouro de Melhor Diretor e corou o filme com a premiação mais importante da noite, deixando para trás filmes como Django Livre, Lincoln (ainda não vi esses), As Aventuras de Pi e A Hora Mais Escura. No final das contas, não importa se ele é melhor ou pior do que os concorrentes, mas sim que trata-se de um excelente trabalho que mostra mais uma vez que o Ben Affleck é melhor diretor do que ator. Ops, não deu para evitar.

Argo - Cena 3

Continua aí 🙂