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Brooklyn (2015)

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BrooklynLiguei a TV no canal TNT no último dia 14, as 11:30hrs, para acompanhar o anúncio dos indicados ao Oscar de 2016 e, de certa forma, posso dizer que não houveram muitas surpresas. O Regresso repetiu o bom desempenho no Globo de Ouro e despontou como o grande favorito do ano, o esquisito O Bom Dinossauro ficou de fora e O Despertar da Força, a despeito de ter tornado-se a maior bilheteria de todos os tempos, foi indicado apenas a prêmios considerados secundários, como Melhor Trilha Sonora e Melhores Efeitos Especiais.

A novidade ficou por conta da escolha do Brooklyn como a produção “feminina”, por assim dizer, dentre as concorrentes à estatueta de Melhor Filme. No Globo de Ouro, o filme do diretor John Crowley foi indicado apenas na categoria Melhor Atriz – Drama, enquanto o Carol e o Joy: O Nome do Sucesso concorreram a Melhor Filme. Essa inversão, ao meu ver, foi positiva: além de garantir visibilidade para mais títulos, achei Brooklyn bem melhor do que o Carol (ainda não vi o Joy). Mesmo sem grandes polêmicas e com uma narrativa simples, este filme de época é certeiro em retratar o eterno conflito entre nosso desejo de mudança e nossa inclinação às permanências e tem um ou dois diálogos bons o suficiente para que tu guarde-os na memória durante muito tempo.

Na Irlanda pós-guerra de 1952, a tímida e sonhadora Eilis (Saoirse Ronan) resolve mudar-se para os EUA em busca de uma vida melhor. Os motivos dessa decisão, mais do que explicados, são mostrados por Crowley de forma que a gente consiga sentir toda a agonia da personagem: Eilis trabalha para uma megera em uma mercearia e sente-se entediada com a rotina da cidade, que consiste em frequentar a igreja e comparecer em bailes nos quais todos os rapazes vestem-se do mesmo jeito e todas as garotas vão para arrumar um casamento. Auxiliada por um padre, ela embarca então em um navio com destino à América com a esperança conseguir algo melhor para si.

Saoirse Ronan as "Eilis" in BROOKLYN. Photo by Kerry Brown.  © 2015 Twentieth Century Fox Film Corporation All Rights ReservedBrooklyn divide-se em três momentos distintos em que os diferentes estados de espírito de Eilis são traduzidos na tela por técnicas de fotografia variadas. No início, quando ela ainda está na Irlanda, predominam cores mais escuras e sombrias. Já a chegada nos EUA é acompanhada por um “alegramento” do visual, que torna-se mais vivo e colorido. Finalmente, quando a personagem precisa retornar à Irlanda, a escuridão inicial é substituída por uma claridade quase etérea, sinal de que a percepção dela sobre sua terra natal mudou completamente. As transformações de Eilis ao longo da trama são bem evidentes, mas esse recurso de refleti-las na fotografia é aquele tipo de cuidado que, quando percebido, merece ser comentando e elogiado: Brooklyn é um filme bonito de ser visto, com cenários espetaculares e closes no rosto da Saoirse que fazem com que os olhos dela pareçam duas piscinas de água límpida.

Brooklyn - Cena 3Precisei de duas sessões para terminar o filme: vi a primeira hora, saí para trabalhar e depois assisti os últimos 50min quando voltei para casa. Não foi algo planejado, mas acabou tornando-se um jeito interessante de acompanhar a história porque ela meio que toma um rumo inesperado depois da primeira hora devido a um acontecimento trágico. Eilis enfrenta dificuldades tanto na viagem (quem já teve dor de barriga sem poder ir ao banheiro sofrerá junto com a personagem na cena do balde rs) quanto em sua chegada nos EUA, onde ela tem que lidar com a saudade de casa, mas é seguro dizer que a primeira metade de Brooklyn é composta majoritariamente por bons sentimentos. Passado esse início turbulento, mais especificamente após ela conhecer o simpático Tony (Emory Cohen), o filme traz uma sucessão de cenas divertidas do cotidiano que servem para mostrar que a decisão da personagem de mudar-se foi bem sucedida. A cena do jantar na casa dos italianos é uma das coisas mais engraçadas que eu lembro de ter visto recentemente em um filme e é deveras tocante a forma como o relacionamento entre os dois personagens desenvolve-se, com Tony vencendo a desconfiança de Eilis com determinação e romantismo.

Brooklyn - Cena 4Parei o filme aí, quando tudo estava dando certo, e retomei-o para ver o mundo de Eilis balançar. Um telefone toca e então todos os planejamentos que a personagem estava fazendo precisam ser postos de lado para que ela regresse às pressas para a Irlanda. Essa segunda metade do filme me fez lembrar daquela famosa citação do poeta inglês John Milton, que diz que “é melhor reinar no inferno do que servir no céu”. Quando Eilis deixou sua cidade para mudar-se para os EUA, ela era apenas mais uma moça comum cheia de sonhos. Quando retorna, ela transformou-se em uma mulher independente, com formação em contabilidade, noções de moda e valores muito diferentes daqueles praticados pelos cidadãos do local. O status que ela ganha na cidade por esse período vivido em outro país faz com que ela considere a possibilidade de ficar e deixar tudo para trás, inclusive Tony. É preciso que ela volte a experimentar o lado sombrio de sua terra natal para que ela lembre-se dos motivos que levaram-na a querer mudar-se de lá.

Brooklyn - Cena 2Brooklyn, que é baseado em um livro do escritor Colm Tóibín, é bastante didático em retratar o nosso medo daquilo que é novo e sutil para demonstrar que só é possível crescer quando deixamos o passado para trás de vez e nos entregamos de coração à novas experiências e emoções. Ele é contado do ponto de vista feminino, com o tal Tony encantando todo mundo com sua sinceridade (olhem a espontaneidade que ele solta um palavrão quando Eilis diz que gosta dele, olhem ele assobiando ao vê-la de bikini rs), mas sua mensagem contra o conformismo, mensagem que é sintetizada no último e emocionante diálogo do filme, transcende qualquer questão de gênero. Não deve levar nenhum dos Oscars que está concorrendo (Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Roteiro Adaptado), mas é um dos indicados que tive mais prazer em assistir até agora.

Brooklyn - Cena

O Grande Hotel Budapeste (2014)

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O Grande Hotel BudapesteDesde a criação desse blog, realizei a cobertura de 4 Oscars, e TODO ano é exatamente a mesma coisa: no final de dezembro/começo de janeiro saem os indicados ao Globo de Ouro (conhecidamente uma prévia da festa realizada pela Academia) e o desespero para ver e resenhar todos os títulos antes da premiação começa. Esse ano, aliás, foi um dos mais sofridos nesse sentido pois, além de ter acabado de casar, eu estava completamente sem tempo conduzindo algumas obras em casa. No final, tudo deu certo e eu acabei realizando um dos meus melhores trabalhos até então (consegui ver até um documentário), mas definitivamente não quero passar por essa canseira de novo. Pensando nisso, decidi começar a procurar por concorrentes em potencial desde já, o que me levou até esta página. A maioria dos títulos aí listados ainda não está disponível e, claro, até o momento, tudo não passa de especulações, porém, mesmo assim, decidi confiar e explorar a lista desejando profundamente que o esforço me ajude a evitar a habitual fadiga do começo do ano. Dito isso, declaro aberta a cobertura do Oscar 2015 (UHULLL!!!! rs) e lhes apresento o O Grande Hotel Budapeste.

O Wes Anderson é conhecido por criar personagens caricaturais e por apoiar sua narrativa em recursos visuais, tais como caixas de texto, cores fortes e edição marcante, que dão a seus filmes um divertido tom de fábula. Mais do que isso, Anderson também costuma apresentar pontos de vista incomuns sobre os temas que ele escolhe para trabalhar, e um bom exemplo disso é a inversão de maturidade entre adultos e crianças que ele promove no Moonrise Kingdom. O ponto aqui é que, indiscutivelmente, estamos falando de um diretor criativo, daqueles de quem sempre podemos esperar algo no mínimo “diferente” quando vamos assistir um de seus filmes, e é exatamente isso que O Grande Hotel Budapeste oferece desde a sua primeira cena.

O Grande Hotel Budapeste - Cena 3Sentado em uma biblioteca, um escritor divaga sobre o processo de criação literária. Segundo ele, ao contrário do que a maioria das pessoas acredita, os escritores não são fontes inesgotáveis de criatividade, sendo que grande parte do material que eles produzem é apenas o relato de alguma história que eles ouviram algures. Tendo acabado de publicar um livro chamado O Grande Hotel Budapeste, ele passa então a contar como tomou ciência daquilo que escreveu.

Quando esse escritor fala sobre o ato de escrever, temos um daqueles momentos que agradam imediatamente quem gosta de metalinguagem. Nota-se depois, no entanto, que não é exatamente isso que está acontecendo ali. O homem, que fala com propriedade para uma câmera como se estivesse gravando um documentário ou algo que o valha, tem o seu discurso interrompido o tempo todo por um de seus netos que está brincando no local. A inocência e a alegria do menino contrastam significativamente com o tom quase enfadonho do velho. Na hora que isso acontece, achei engraçado e só, mas depois (principalmente após um diálogo sobre motivações que acontece próximo ao final da trama) fui ficando cada vez mais convencido de que, por trás de todos aqueles gracejos, está um posicionamento do diretor contra a pomposidade metafórica e a retidão narrativa.

O Grande Hotel Budapeste - Cena 4Essa reflexão sobre o longa nasceu principalmente da vontade de compreender os motivos que levaram “especialistas” a colocarem-no entre os prováveis indicados ao Oscar. Digo isso porque, verdade seja dita, o fato de O Grande Hotel Budapeste criticar indiretamente um padrão de narrativa e/ou tentar reformulá-la é o menor de seus “atrativos”. O que é bom aqui, bom mesmo, são os tais personagens caricatos típicos do diretor e as situações absurdas em que ele coloca-os. A tal história que o escritor conta no início diz respeito aos dias gloriosos do Grande Budapeste Hotel, uma construção luxuosa comandada pelo excêntrico M. Gustave (Ralph Fiennes) localizada na fictícia República de Zubrowka. Gustave é um amante da literatura e das mulheres idosas que vê-se envolvido em uma conspiração após uma uma de suas muitas “namoradas” falecer e deixar-lhe uma fortuna. Auxiliado pelo garoto de recados do hotel, Zero (Tony Revolori), ele passa por um bocado de situações absurdas e perigosas enquanto tenta provar sua inocência e salvar a própria vida.

O Grande Hotel Budapeste - Cena 2Um amigo até havia me indicado esse filme no começo do ano mas, como eu estava um tanto quanto atarefado na época, acabei ignorando a dica, ainda mais por ele ter fundamentado-a em cima de elogios ao Ralph Fiennes, de quem nunca fui fã. Não que eu não goste dele, mas até hoje eu não havia visto nada de excepcional nele ao ponto de assistir um filme apenas porque ele está no elenco. De agora em diante, consigo me ver tranquilamente pesquisando a filmografia do cara e escolhendo algo para ver ou, no mínimo, ficando empolgado por ver o nome dele relacionado a alguma produção que eu for assistir. O Grande Hotel Budapeste também é um daqueles longas que contam com a participação de vários atores conhecidos (para citar apenas alguns, dão as caras por aqui F. Murray Abraham, Adrien Brody, Edward Norton, Willem Dafoe, Jude Law, Bill Murray, Saoirse Ronan, Harvey Keitel e Tilda Swinton), mas vê-lo é, sobretudo, ver o show que o Fiennes dá com suas caretas, gritos e citações literárias que ele dispara nos ouvidos do pobre Zero. Li que o personagem foi escrito para o Johnny Depp, e não há dúvidas que o ator faria um ótimo trabalho com sua conhecida excentricidade, porém é notório que o Fiennes aproveitou a chance para entregar uma das melhores interpretações de sua carreira. Obviamente, preciso ver o trabalho dos outros concorrentes ao Oscar de Melhor Ator antes de falar qualquer coisa mas, com base no que vi aqui, é possível dizer que ele concorreria com chances reais de vencer.

O Grande Hotel Budapeste - Cena 5À direção e roteiro inovadores do Wes Anderson e à interpretação genial do Fiennes, somam-se como atrativos ao filme as já comentadas participações de vários atores (é sempre prazeroso ver o F. Murray Abraham falando com aquele jeito cavalheiresco e o Bill Murray com sua eterna cara de tédio) e as piadas de humor nonsense que o diretor produz das situações mais inesperadas. Em um determinado momento, por exemplo, o personagem do Willem Dafoe (quase uma reedição do que ele fez no A Sombra do Vampiro) foge de Gustave e Zero em uma pista de esquiar. A movimentação dos personagens nessa cena é feita de uma forma tosca, meio lenta e anti natural, de modo que eles ficam parecendo brinquedinhos. Quando tu pega-se rindo da forma como as coisas/personagens movimentam-se em um filme, tu precisa reconhecer que algo deu certo. Levando isso tudo em consideração, torço para que O Grande Hotel Budapeste figure entre os indicados ao Oscar e ganhe o devido reconhecimento mas, caso isso não aconteça, já fico feliz por ter assistido um filme tão completo e divertido.

O Grande Hotel Budapeste - Cena

Hanna (2011)

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Li em algum lugar que a série Bourne trouxe inteligência para os filmes de ação. É uma afirmação que vale mais para ressaltar as qualidades dos filmes do Matt Damon do que para colocar um marco justo dentro do gênero. Assim como é óbvio que foram produzidos bons filmes de ação antes de Jason Bourne, também o é que muitos longas ruins foram lançados após ele, alguns inclusive tendo como principal defeito o fato de emularem descaradamente elementos da trilogia criada pelo escritor Robert Ludlum.

Apesar de trazer no elenco nomes de peso como Eric Bana, Cate Blanchett e a hypada Saoirse Ronan, Hanna teve um lançamento pra lá de discreto seguido por uma recepção morna, quase inexistente, dos sites e blogs especializados em cinema. O título do filme é também o nome da personagem principal: Hanna (Saiorse) é uma adolescente que nasceu e foi criada longe da civilização por um ex-agente do FBI (E. Bana). Disposta a abandonar o esconderijo e conhecer o resto do mundo, Hanna termina seu treinamento e aciona um mecanismo que revela sua localização para aqueles que há muito tempo procuravam por ela, entre eles a também agente do FBI Marissa (Blanchett). Inicia-se uma caçada humana onde Hanna colocará suas habilidades à prova e descobrirá detalhes sobre seu nascimento.

Hanna, portanto, é uma espécie de Jason Bourne de saias: super habilidosa, inteligente e com um passado obscuro ligado à operações secretas do governo. O diferencial da história reside no fato da personagem não ter tido contato com o resto do mundo até o momento em que o filme começa, o que gera cenas interessantes onde vemos o confronto entre conhecimento teórico e experimentação.

Contrastando a inocência das histórias dos Irmãos Grimm que Hanna gosta com os assassinatos que ela comete em nome da auto-preservação, o filme do diretor Joe Wright reúne bons elementos mas falha consideravelmente na hora de colocá-los juntos. Não há, por exemplo, desenvolvimento para personagens chave da história: Eric Bana e Cate Blanchett passam praticamente despercebidos, sendo que essa última faz um dos trabalhos mais inexpressivos de sua carreira. Além disso, o motivo de Hanna ter que revelar sua localização para o FBI antes de sair para o mundo é mal explicado e mesmo as cenas de ação são poucas e genéricas.

Hanna é um filme para assistir uma vez e esquecer. Não chega a ser tedioso ou ruim em nenhum momento, mas não acrescenta nada ao gênero e não tem cenas dignas de nota.

Cidade das Sombras (2008)

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Resumidamente, o Mito da Caverna do Platão fala sobre libertar-se da escuridão da caverna (ignorância) e conhecer a luz, o mundo tal qual ele é (verdade alcançada através do conhecimento filosófico). Cinematograficamente falando, a trilogia Matrix é um dos exemplos mais conhecidos de adaptação dos escritos de Platão. Muito menos badalado e mais voltado para o público infanto-juvenil é o divertido Cidade das Sombras, dirigido pelo Gil Kenan e que saiu por aqui diretamente em DVD devido a seu fracasso nas bilheterias ianques.

Ambientado em um mundo pós-apocalíptico, Cidade das Sombras (tradução bizarra e conceitualmente errada para City of Ember – Cidade da Brasa/Chama) conta a história da cidade construída para ser o último refúgio da raça humana. Os habitantes sobrevivem as custas de um poderoso gerador de energia e vivem cerca de 200 anos sem contato com o mundo externo. O “segredo” deixado pelos construtores da cidade para ser revelado na hora certa e guiar os sobreviventes até a superfície perde-se ao longo dos anos mas, confirmando o ânsia do espírito humano por liberdade, dois jovens começam a perseguir as pistas daquilo que parece ser um mapa para fugir do local.

Baseado no livro The City of Ember da escritora Jeanne DuPrau, Cidade das Sombras tem a mesma pegada de um livro de aventura da saudosa Coleção Vaga-Lume. Enquanto trabalha o mito da caverna, a história conduz os personagens por situações de perigo e suspense em busca das pistas que levarão até a saída do local. Platão dizia que, uma vez fora da caverna, quem regressasse encontraria o escárnio e a violência daqueles que ficaram e que tinham suas relações de poder baseadas naquilo que era falso. O prefeito da cidade, interpretado de forma pouco inspirada pelo Bill Murray, é o vilão que aproveita da ignorância da população para viver uma vida de regalias. Auxiliados pelo sonhador Loris Harrow (Tim Robbins), as crianças Don (Harry Treadaway) e Lina (Saoirse Ronan) desafiam o prefeito e os perigos do desconhecido em sua busca por liberdade.

Cidade das Sombras tem um visual magnífico e, apesar dos personagens unilaterais e de alguns pontos mal desenvolvidos (não explicam o que causou o “fim do mundo”, a razão do desenvolvimento anormal dos insetos é vaga e o “sumiço” da caixa é totalmente questionável), pode ser considerado como uma boa opção para quem gosta do tema. A abordagem mais “leve” pode até cansar os mais escolados, mas o clima mágico da aventura certamente agradará os órfãos daqueles clássicos da sessão da tarde onde crianças procuravam tesouros perdidos e … cadáveres.

Got it?

Got it?