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O Grande Gatsby (2013)

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O Grande GatsbyO Grande Gatsby, o livro do escritor americano F. Scott Fitzgerald, é considerado (segundo o Wikipédia, em uma citação que carece de fontes – HA!) o segundo melhor romance escrito no século XX. Não li o livro, mas pesquisei e vi que adaptações para a tela o IMDB contabiliza cinco, número que, juntamente com esse status que a obra carrega e o trailer multi-colorido que pode ser visto nos últimos meses, me fizeram entrar na sala do cinema com uma pergunta na cabeça: Quem é Gatsby? O que, afinal de contas, ele fez para ser considerado “grande” por Fitzgerald e para despertar o interesse dos cineastas e críticos literários que ajudaram a imortalizar o livro?

Gatsby (Leonardo DiCaprio) é o milionário herdeiro de um Kaiser alemão, Gatsby é um assassino, Gatsby é um herói de guerra, um gangster e um louco. Gatsby é uma sombra, um homem que ninguém nunca viu mas do qual todos já ouviram falar, uma lenda viva que possuía endereço fixo e rosto desconhecido na cidade de Manhattan no período de prosperidade econômica que marcou os primeiros anos após a Primeira Guerra Mundial. Muitos foram aqueles que frequentaram as festas pomposas por ele oferecidas, verdadeiras orgias urbanas regadas a drogas, champagne e charleston, mas poucos foram os que, de fato, conheceram o homem que escondia-se atrás da lenda. Nick Carraway (Tobey Maguire) mudou-se para uma modesta casa ao lado da mansão do milionário e, sem entender o porque, foi formalmente convidado para uma dessas festas. Anos depois, em uma conversa com um psicólogo, ele conta como conheceu Gatsby e, ao escrever as experiências que viveu a seu lado, revela que aquele homem misterioso era, sobretudo, uma pessoa insegura e apaixonada.

O Grande Gatsby - Cena

Não comento o livro, porque não o li, mas assistindo o filme do diretor Baz Luhrmann fiquei com a impressão de que, ao contrário do que o trailer vende, o que realmente importa em O Grande Gatsby não é quem o personagem é, mas sim os motivos que o levaram a sê-lo. Contando do início, não passam-se muitos minutos até que os boatos sobre Gatsby convertam-se na imagem de um sorridente e seguro Leonardo DiCaprio no meio da multidão convidando Carraway para conversar e conhecer sua mansão. Conversa vai, conversa vem, o desejo é revelado, o pedido é feito e as névoas do mistério que circulavam o personagem dissipam-se, revelando então um homem comum que compreensivelmente anseia o amor e admiração da mulher amada (Carey Mulligan). Na sequência, vemos também o exagero, o medo e a preocupação excessiva em agradar que Gatsby demonstra na cena onde, após uma preparação meticulosa, finalmente encontra Daisy para conversar. Ela, além de estar casada com um homem infiel, também parece gostar dele. O que, então, justificaria todo o receio e desconfiança do personagem com relação ao futuro daquela tão sonhada relação?

O Grande Gatsby - Cena 2

Em alguns textos que li sobre os escritos do Fitzgerald, comentam que a trama é uma elaborada metáfora para a formação dos EUA enquanto nação, uma crítica a busca inglória pelo “sonho americano” que norteou a vida de muitos dos cidadãos daquele país. É uma leitura possível, assim como também consigo ver um paralelo entre o dilema de Gatsby e a jornada fantasiosa do D. Quixote na obra máxima do Cervantes (ambos perseguem alvos que, de certa forma, existem somente dentro de suas próprias mentes), mas essa intelectualidade e a análise literária acabam ficando em segundo plano diante do conteúdo extremamente emocional composto pelas imagens e músicas capturadas e escolhidas por Luhrmann.

O Grande Gatsby - Cena 3

Todo o poder de compra de Gatsby exibido em suas festas luxuosas, cujos detalhes, beleza e exageros são explorados com maestria pelo diretor, transforma-se em desespero quando percebemos que não há dinheiro no mundo capaz de garantir ao personagem a paz e a segurança que ele tanto batalhou para conquistar. Optando por filmar em 3D para maximizar o impacto visual e completando as cenas grandiosas com músicas densas de letras que falam de amor de uma forma desesperada e triste (essa aqui é de morrer), Luhrmann fornece ao espectador parte da experiência vivenciada interna e externamente por Gatsby, cuja personalidade insegura vai sendo trabalhada aos poucos até culminar em uma explosão emocional, resultado de um diálogo significativo e revelador na metade final da trama, que me chocou pela frustração transmitida.

Exemplo das limitações do chamado self-made man e vítima de uma obsessão, Gatsby acaba pagando um preço alto demais pelo reconhecimento e poder que ele tanto almejou, tendo a sua grandeza transformado-se no motivo de sua própria queda. Adorei o visual arrebatador, a edição caprichada que valoriza a metalinguagem da narrativa, a atuação do DiCaprio e a trilha sonora de excelentíssimo bom gosto e recomendo que, caso ainda seja possível (a resenha está deveras atrasada), vocês assistam O Grande Gatsby no cinema. Acreditem, a história é relevante e bacana e o visual é espetacular.

O Grande Gatsby - Cena 4

O Espetacular Homem-Aranha (2012)

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Que os empolgados com esse novo filme do Aranha me perdoem, mas eu não acho que ele seja tão melhor assim do que a trilogia do Sam Raimi/ Tobey Maguire. Qualquer mente sã concordará que o Homem Aranha 3, maldosamente apelidado de Emo Aranha, é um filme mediano/ruim e que os rumos que a história tomaram ali (principalmente por desperdiçarem alguém do calibre do Venom) pediam alguma mudança drástica para que o super herói não perdesse fôlego na corrida de filmes do gênero que ele mesmo iniciou. Tendo isso em vista, nunca considerei a idéia de um reboot prematura ou precipitada, mas sim como uma das únicas formas de salvar um trabalho que havia começado bem mas que infelizmente perdeu o rumo. Raimi e Maguire saíram de cena para dar lugar a Marc Webb (do cultuado 500 Dias com Ela) e Andrew Garfield (o brasileiro Eduardo Saverin de A Rede Social) e surgiu a promessa de um filme que seria fiel aos quadrinhos ao contar a origem do aracanídeo.

Na versão de Webb, Peter Parker (Garfield) continua sendo um nerd que sofre bullying na escola. Ele mora com a tia May (Sally Field) e com o tio Ben (Martin Sheen) e nutre uma paixão secreta por uma colega de classe, a loira Gwen Stacy (Emma Stone). Tendo perdido os pais ainda criança em um acidente misterioso, Peter vez ou outra tenta conseguir informações sobre eles. Após um dia difícil, o rapaz acaba encontrando documentos do pai que o ligam ao Dr. Curt Connors (Rhys Ifans) e parte para o local de trabalho do cientista. Lá ele é picado por uma aranha geneticamente modificada e adquire os poderes que o transformam no Homem Aranha. Enquanto aprende a dominar suas novas habilidades, Peter também ajuda o Dr. Connors a aperfeiçoar uma fórmula de regeneração de partes do corpo baseada em DNA de répteis, mas o experimento foge do controle e o cientista transforma-se no vilão conhecido como Lagarto.


A sinceridade fala quando digo que não conheço os quadrinhos do Homem Aranha, aliás, eu raramente leio quadrinhos. Não é lá algo de que eu me orgulhe, mas no final das contas ninguém tem tempo para tudo. Eu até sabia que a Gwen Stacy havia sido a primeira namorada do Peter, mas não conhecia nada sobre as tais “origens” que esse filme traria à tona. Pelo que eu andei lendo, elas dizem respeito principalmente a forma como o herói produz e utiliza suas famosas teias. Ao contrário do que acontecia com o Tobey Maguire, aqui vemos o nerd Andrew Garfield construir um sofisticado equipamento que produz teias resistentes o suficiente para que ele possa pendurar-se nelas e voar pelos céus da cidade de Nova York. Legal que tenham tido esse tipo de cuidado na construção do roteiro mas, sinceramente, pra mim isso foi apenas um detalhe e não fez tanta diferença no resultado final.

Eu lembro da época do lançamento do primeiro filme do Homem-Aranha e das sensações que eu experimentei assistindo-o. Um dos melhores momentos do longa, na minha opinião, era a sequência onde o Peter descobria e experimentava seus novos poderes. Foi exatamente nesse ponto que o novo O Espetacular Homem-Aranha começou a me decepcionar: Webb recria essa sequência (assim como o confronto de Peter contra seus agressores na escola) mas o faz de forma apressada. Em uma cena ele está sendo picado e na outra ele já está elaborando planos para o uniforme e enfrentando bandidos na rua.

Mesmo preferindo, no geral, as piadas do trabalho do Sam Raimi, reconheço que o Aranha do Webb é mais divertido e natural, mas não dá para dizer o mesmo sobre a qualidade dos vilões, fácil a minha maior decepção. Nem vamos entrar no mérito de comparar as atuações de “monstros” como o Willem Dafoe e Alfred Molina com o esforçado Rhys Ifans, a crítica é puramente visual. O efeito especial usado para gerar o Lagarto é horrível e a tentativa de fazer algo mais “orgânico” foi infeliz. Não que aquele Duende Verde metálico seja o vilão dos meus sonhos, mas em momento algum eu consegui comprar a idéia que o Webb tentou vender com aquele monstro de cara de peixe.

Voltando a atenção para as sequências de ação, a cena da ponte merece os meus aplausos, senti toda tensão do resgate do menino preso dentro do carro. A cena do esgoto, mesmo que rápida, também é bacana, mas e o resto? O confronto final gerou uma cena legal para colocar no trailer (aquela onde uma antena quase atinge o herói) e só, até a luta do Aranha contrar o Homem Areia “Power Ranger Style” é mais empolgante.

Webb certamente sabe conduzir histórias sobre relacionamentos. Ele mostrou isso muito bem no 500 Dias com Ela e não decepcionou ao explorar a vida de Peter Parker longe do uniforme. Já no que diz respeito as cenas de ação e na construção dos vilões, ele certamente pode aprender uma coisa ou outra com o Sam Raimi. O Espetacular Homem-Aranha não é bom como eu gostaria e não causa o mesmo impacto do filme de 2002, mas confio na capacidade do diretor para aproveitar os ganchos que ele deixa (interesse de Peter por fotografia, Norman Osborn, Flash Thompson etc) para dar início uma boa franquia.

Oh trenzinho feio…