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O Segredo da Cabana (2011)

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Falar que um filme é “o melhor que foi feito nos últimos anos” é algo que eu faço (e faço regularmente rs) muito mais para chamar a atenção do leitor para alguma película que me empolgou do que para eleger de fato um entre tantos filmes produzidos que mereça ser chamado do “o melhor”. Convenhamos, nem é preciso argumentar sobre ser difícil estabelecer critérios para uma escolha desse tipo. Para dizer que um filme é o supra sumo do que foi produzido nos últimos anos (aliás, de quantos anos estamos falando mesmo? rs) seria necessário ver tudo que foi produzido nesses últimos anos, certo? Impossível, meus amigos. Agora esqueçam tudo que eu escrevi até agora: O Segredo da Cabana é o melhor filme de terror que foi produzido nos últimos anos.

Caso você também esteja se perguntando, NÃO, esse filme não tem NADA a ver (felizmente) com o bestseller A Cabana do canadense William P. Young. Acreditem, me perguntaram isso hoje de manhã e, mesmo que a pessoa tenha perguntado com um pouco de ironia, é bom deixar claro que aqui tu não encontra Deus na cabana (nem Jesus nem o Espírito Santo. Pois é, eu li =/). O filme é sobre um grupo de jovens que decide passar um final de semana em uma cabana no meio da floresta. Tem a gostosa, o atleta (Chris Hemsworth), a moça inocente, o nerd bonzinho e o maconheiro doidão. Lá eles evocam uma antiga maldição e cabeças começam a rolar.

Os personagens esteriotipados de O Segredo da Cabana

Se você está esperando ler “PEGADINHA DO MALANDRO!” para em seguida encontrar críticas a esse roteiro sem vergonha descrito no parágrafo anterior, eu lhe digo que tu, assim como eu, também foi enganado pelo que esse filme finge ser no seu início meticulosamente pensado pelo roteirista Joss Whedon (de Os Vingadores) e pelo diretor/roteirista Drew Goddard. Como eu considero impossível prosseguir sem revelar o “segredo da cabana”, me despeço aqui da galerinha que não gosta de **SPOILERS** e passo a escrever para quem não importa-se com revelações do roteiro ou com quem assistiu o filme. Ta pulando do barco agora? Assista o filme e volte aqui para comentar 🙂

Ainda aqui? Então vamos lá. Assim que apresenta todo esse esquema clichê que já serviu de roteiro para milhões de filmes de terror, o diretor começa a instigar a curiosidade do espectador mostrando que a tal cabana é vigiada por pessoas que estão em um lugar desconhecido. Ah, então trata-se de um reality show? Sim e não. A primeira reação é acreditar que sim e acredito que muitas pessoas, mesmo após as explicações que ocorrem no final, sairão do filme acreditando nisso. Quando trata-se de análises sobre filmes, não há certo nem errado mas, como acredito que percebi minimamente o que o diretor/roteiristas quiseram passar com O Segredo da Cabana, vou dedicar algumas linhas para tentar explicar o que eu entedi e o que me agradou tanto nesse filme.

A própria construção dos personagens e do cenário mostra que Whedon e Goddard conhecem o gênero no qual estão se aventurando. O Segredo da Cabana é isso, um filme de terror feito por fãs para fãs. Quando os adolescentes evocam a maldição, zumbis aparecem e começam a atacar a casa. O que o filme nos mostra em seus últimos e excelentes minutos é que apareceram zumbis mas que em seu lugar poderiam ter usado palhaços assassinos, crianças malévolas, lobisomens, cenobitas (sim!), cobras gigantes, mutantes ou qualquer outro tipo de vilão que você e eu já vimos em outros filmes de terror. As pessoas que vigiam a casa, no meu entendimento, não são coordenadores de um reality show, mas sim uma alegoria para todos os diretores de filmes de terror! Percebam como eles, de certa forma, montam todo o cenário, divertindo-se ao tentar imaginar o que resultará da escolha dos elementos que eles colocaram em jogo. Eles usam personagens conhecidos, monstros conhecidos, cenário conhecido e, mudando pequenas variáveis, obtém um show (entenda: filme) diferente. Percebam como eles, retratando uma realidade de mercado, desdenham e procuram concorrer com os shows (entenda: filmes) produzidos pelos japoneses.

E aí, qual monstro usaremos dessa vez?

O que eu já estava começando a entender (e adorar) é explicitado em um diálogo próximo ao fim do filme por ninguém mais, ninguém menos do a atriz Sigourney Weaver, a imortal (e isso não é um exagero!) Tenente Ripley da série Alien, que é fácil um dos maiores expoentes do gênero terror no cinema. Ao responder a inocente e pertinente pergunta “mas por que vocês estão fazendo isso?”, a personagem alega que talvez “eles” sejam contra a juventude. Vamos pensar um pouco nisso. Nos Sexta Feira 13 e A Hora do Pesadelo da vida, bem como na maioria dos títulos de terror, vemos jovens bonitos e fúteis sendo dilacerados por assassinos/monstros impiedosos. Além de diminuir o impacto das mortes (é bem mais “fácil” ver uma loira burra morrendo do que uma criança inocente, por exemplo) o uso do esteriótipo parece esconder uma espécie de sadismo desses diretores, uma “raiva” ou qualquer sentimento que o valha contra a juventude. A resposta da personagem da Sigourney Weaver aponta nessa direção e, mais uma vez, nos mostra que trata de um filme de terror que FALA de outros filmes de terror, a tal metalinguagem que diretores como Wes Craven adoram explorar em seus filmes.

Os tais “anciões” que o filme cita eu interpretei como o próprio público dos filmes de terror que está sempre sedento por mais e mais sangue, visto que, quando este “desejo” não é realizado, todo aquele mundo encontra um fim. Enfim, pode ser isso ou eu posso estar viajando muito. O fato é que esse texto, apesar de longo, foi um dos que eu escrevi com mais facilidade desde que comecei a escrever esse blog porque, assim como eu tive muito prazer assistindo o filme, eu também tive desenvolvendo essas teorias. Mais do que em qualquer resenha que eu já escrevi, dessa vez eu gostaria muito de comentários, opiniões e teorias de quem também assistiu. E se você ainda não assistiu e ainda está lendo isso aqui, vá logo assistir! Eu estou saindo agora para ver denovo 🙂

Pode ser apenas mais uma cabana. Mas também pode ser bem mais do que isso 🙂 Aliás, repararam como a cabana do poster lembra a Configuração dos Lamentos do Hellraiser?