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Jogos Vorazes: A Esperança – O Final (2015)

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Jogos Vorazes - A Esperança - O FinalAcabou, a série Jogos Vorazes acabou. O sentimento? Caras, não quero parecer injusto, mas tudo que senti após a sessão terminar foi a alegria de alguém que concluiu uma tarefa desagradável. Ainda que eu tenha tido bons momentos assistindo a história do levante da arqueira Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) contra a Capital, não posso deixar de pensar que nunca cheguei a ficar verdadeiramente empolgado com um lançamento da franquia. Desde que o primeiro longa estreou, lá em 2012, a qualidade das produções foi decaindo filme após filme e, mesmo que esse A Esperança – O Final seja sensivelmente melhor do que seu antecessor, não é errado dizer que a série já vai tarde. Conforme eu havia desconfiado quando escrevi a resenha do Parte 1, dividir a conclusão em dois filmes foi um erro que acabou com qualquer possibilidade da adaptação da obra da escritora Suzanne Collins despedir-se dignamente dos cinemas.

Após Katniss voltar-se abertamente contra Snow (Donald Sutherland) no final do Em Chamas, o que restou para ser contado? A revolução, certo? Katniss seria nomeada como o “Tordo” e lideraria as tropas rebeldes na luta contra a Capital. Em um filme de 2h30min, seria perfeitamente possível mostrá-la balançando entre a responsabilidade de ser o símbolo da revolução e a preocupação com Peeta (Josh Hutcherson), trabalhar a superação desse dilema, entreter o público com as cenas de ação que resolveriam o conflito e, no final, emocionar todos com as mortes, despedidas e desfechos das histórias dos personagens. A ganância, porém, fez com que os executivos da Lionsgate optassem por dois longas para mostrar esses eventos e, como se isso não fosse garantir-lhes dinheiro suficiente, já anunciaram a possibilidade de produzirem um quinto filme para a série, uma trama que funcionaria como uma prequência ou uma continuação direta do que vemos aqui. Certo de que não tenho interesse em ver mais cenas desnecessárias como aquelas envolvendo o gato da Katniss, declaro desde já que esse é o último título da franquia que levará o meu dinheiro. Chega de ser enrolado!

Jogos Vorazes - A Esperança - O Final - Cena 4Agora que já desabafei, vamos ao que pode, de fato, ser visto nessa conclusão. Sem muito material para trabalhar, o diretor Francis Lawrence gasta boa parte do começo do filme com diálogos e cenas que servem para mostrar o estado mental perturbado de Peeta bem como a decisão de Katniss de ir pessoalmente atrás de Snow. Outros eventos importantes, como o apego excessivo que a Presidente Alma Coin (Julianne Moore) começa a demonstrar pelo poder e o casamento de Finnick (Sam Claflin), não recebem a devida atenção e são eclipsados pela insistência no triângulo amoroso formado por Katniss, Peeta e Gale (Liam Hemsworth). Resumindo, esse começo é uma prolongamento de tudo aquilo que foi visto no Parte 1, ou seja, um monte de nada.

Jogos Vorazes - A Esperança - O Final - Cena 3Na sequência, quando Katniss finalmente decide partir para o ataque, o diretor nos dá um pouco daquele tipo de tensão que garantiu as melhores cenas dos primeiros filmes. O perímetro que cerca o palácio de Snow está repleto de armadilhas mortais e muitos personagens entregarão suas vidas para que o grupo da heroína consiga avançar. Quando veja cenas fantásticas, como aquela do óleo quente, não consigo deixar de pensar que a série poderia ter rendido muito mais. A violência daquela imagem das correntes erguendo um soldado no ar, momento que é acompanhado por uma música amedrontadora, é melhor e mais impactante do que TODAS as cenas do filme anterior. Boa também é a fuga no esgoto (ainda que o conteúdo emocional envolvendo o Finnick, que fora plantado lá no casamento, não seja devidamente aproveitado), mas para por aí. O que vem na sequência, além de previsível, é mal executado (ou seria mal editado? a culpa foi sua, Francis?) e muito, MUITO decepcionante.

Jogos Vorazes - A Esperança - O Final - Cena 2Vamos lá: Há um governo ditatorial. Esse governo coloca os cidadãos uns contra os outros em jogos sádicos. Uma das jogadoras revolta-se contra o governo e inspira uma revolução. O governo é derrotado. Foi essa a história que acompanhamos, nos últimos 3 anos, na série Jogos Vorazes. Com altos e baixos, a trama chegou em seu momento decisivo e, quando todos esperavam um final épico em que o último ponto acima citado (o governo é derrotado) fosse desenvolvido, surpreenderam-nos com uma conclusão em que esse desfecho é, na maior parte do tempo, apenas DESCRITO em diálogos. É isso mesmo: gastaram 4 filmes, sendo um deles completamente dispensável (Parte 1), para resolverem todos os problemas e conflitos da trama em meros 10 minutos de conversa fiada. A correria, aparentemente, foi para garantir tempo na tela para o final água com açúcar mais do que anunciado entre Katniss e Peeta. O clima onírico forçado que dá o tom da cena, porém, não chega nem aos pés da sinceridade de outros momentos menores e mais tocantes, como o beijo de despedida entre Haymitch (Woody Harrelson) e a excêntrica Effie (Elizabeth Banks).

Estou feliz com o fim (?) da franquia Jogos Vorazes, mas pelo motivo errado: mais do que satisfeito com o dinheiro e com o tempo que investi assistindo os filmes, estou aliviado por não precisar mais escrever sobre eles. Nunca mais. UFA!

Jogos Vorazes - A Esperança - O Final - Cena

Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1 (2014)

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Jogos Vorazes - A Esperança - Parte 1Ironicamente, Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1 veio para acabar com toda e qualquer esperança que eu ainda nutria de me divertir com a série. Katniss Everdeen (Jennifer ‘look at my boobs’ Lawrence) ainda retornará às telas em 2015 para o encerramento da franquia mas, levando em consideração o que vi até aqui, não tenho absolutamente nenhum motivo para acreditar que a experiência será menos entediante do que a que tive assistindo esse Parte 1. Terminei a minha resenha do Em Chamas esperançoso de que as pontas da história que propositalmente haviam sido deixadas abertas finalmente levassem a série a um outro patamar de qualidade visto que, especulei (não conheço os livros da Suzanne Collins), aparentemente a sequência abordaria com mais ênfase e seriedade o interessante contexto social da fictícia Panem. Ledo engano. Aproveitando a onda “caça níqueis” inaugurada pela série Crepúsculo, que dividiu o último livro da Stephenie Meyer em dois filmes (e nunca é demais lembrar que o Peter Jackson foi ainda mais longe e conseguiu a peripécia de rodar 3 longas sobre O Hobbit), os produtores de Jogos Vorazes também optaram por transformar a conclusão da história da Collins em duas produções distintas. O resultado, meus amigos, é um dos filmes mais chatos do ano, uma espécie de trailer gigantesco e enfadonho cujo único mérito é cevar o terreno para um clímax que dificilmente será bom o suficiente para justificar toda a enrolação que vemos aqui.

Jogos Vorazes - A Esperança - Parte 1 - CenaDepois de atirar sua emblemática flecha contra o teto da arena onde realizava-se o 3º Massacre Quaternário (em tempo: Massacre Quaternário é um nome MUITO legal), Katniss foi resgatada pelo grupo de resistência mas viu-se separada de Peeta (Josh Hutcherson) que, por sua vez, fora sequestrado após o incidente a mando do Presidente Snow (Donald Sutherland) e levado para a Capital. Plutarch (Philip Seymour Hoffman) e a Presidente Alma Coin (Julianne Moore – em tempo: Alma Coin é um nome MUITO ruim), líderes do grupo que rebelou-se contra o sistema, pretendem então transformar Katniss no Tordo, símbolo da revolução em curso, mas é visível que, acima de qualquer coisa, a personagem continua preocupada mesmo é com o bem estar de sua família e com o destino de Peeta.

Parte 1 é, portanto, sobre o despertar da consciência de Katniss. Ainda que ela já tenha demonstrado coragem e bravura no primeiro longa ao substituir a irmã nos jogos e comprovado sua superioridade técnica no campo de batalha ao sobreviver ao Massacre Quaternário, a personagem continuava alheia a opressão da Capital contra os Distritos e todas as mortes e sofrimentos que isso provocava. Ao propor um acordo para resgatar Peeta, Plutarch engendra então um choque de realidade para Katniss, que é enviada para as ruínas do que outrora foram as cidades distritais com o intuito de gravar mensagens de apoio aos rebeldes. Lá, além de ver os doentes e feridos resultantes do conflito, ela percebe o quanto sua participação nos Jogos Vorazes inspirou as pessoas e, tal qual Plutarch previra, decide participar ativamente da guerra contra a Capital.

Jogos Vorazes - A Esperança - Parte 3 - CenaJogos Vorazes, o primeiro filme da franquia, trazia uma crítica irônica e nada sutil contra a manipulação televisiva em geral, seja ela feita através de reality shows, seja em programas de entrevistas. As expressões exageradas e as roupas bufantes de personagens como o âncora Caesar Flickerman (Stanley Tucci) davam um recado claro sobre o conteúdo pernicioso que muitas vezes é levado para dentro de nossos lares por pessoas que querem nos vender suas mentiras e informações distorcidas a qualquer custo. Essa crítica, ainda que ficasse em segundo plano diante das mortes dos jogos e do romance entre Katniss e Peeta, foi bem construída e converteu-se em um dos pontos fortes da franquia quando foi ampliada no Em Chamas com a Capital usando os personagens em shows e tours em que eles eram exibidos como exemplos da possibilidade real de mobilidade social. Não que fosse algo profundo e digno de nota no campo de produções que trabalham com os temas da alienação e controle estatal (comparar a série com filmes como 1984 e Fahrenheit 451, nesse sentido, chega a ser covardia), mas a simples abordagem do assunto no meio de um conteúdo tipicamente juvenil me agradou bastante.

Jogos Vorazes - A Esperança - Parte 1 - Cena 4Parte 1, sem poder contar com uma edição dos jogos para chamar de sua, focou nessa problemática da manipulação mas, tendo em vista o material deveras superficial no qual ele apoia-se, essa transição da ação para o drama falhou miseravelmente. Por mais engraçado que seja ver Katniss na frente das câmeras tentando interpretar a si mesma e que cause espanto ver Peeta no programa de Caesar servindo como contraponto as mensagens encorajadoras de sua amada, o filme carece de ritmo e de emoção. Se Katniss soa extremamente falsa posando com seu arco em frente a uma tela verde, também é pouco natural que uma franquia cujos dois primeiros episódios foram forjados em cima de batalhas e técnicas de combate converta-se em um imbróglio de diálogos pouco inspirados e cenas de desenvolvimento de personagens chatas. Aquela cena, por exemplo, em que Katniss e um sujeito saem para caçar e avistam um cervo, bem como aquela em que ela corre para salvar a irmã e seu gato (aliás, o gato é fácil o personagem mais funcional do filme), são completamente dispensáveis.

Jogos Vorazes - A Esperança - Parte 1 - Cena 5Tal qual seu antecessor, Parte 1 é do diretor Francis Lawrence, um cara deveras competente (eu gosto do Constantine) ao qual eu não consigo imputar culpa por toda a enrolação na qual esse filme transformou-se. Ainda que o grande diferencial da franquia, por assim dizer, sejam os jogos, não tenho dúvidas de que essa conclusão poderia ter sido minimamente divertida (mesmo sem a matança) caso a história não tivesse sido dividida em dois longas, o que certamente não foi uma decisão dele. Ao optarem por ganharem um pouco mais com a série, os produtores criaram uma espécie de prelúdio para o fim, um trailer gigantesco, portanto, para aquilo que pagamos para ver agora mas que só nos será ofertado no ano que vem mediante um novo pagamento. Infelizmente, a série, que prega contra a manipulação, terminará as custas de um recurso manipulador e sem vergonha, responsável direto por esse Parte 1 ser uma experiência tediosa e esquecível.

Jogos Vorazes - A Esperança - Parte 1 - Cena 2

O Grande Lebowski (1998)

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O Grande LebowskiJeffrey Lebowski (Jeff Bridges) é um cara comum: ele joga boliche, anda por aí de carro e, às vezes, viaja com ácido ouvindo Creendence. Aliás, Lebowski não é apenas “um cara”, ele é “O” Cara, com C maiúsculo mesmo, porque é assim que ele gosta de ser chamado. Um dia, o Cara é subitamente retirado de sua rotina simples, mas feliz, para uma aventura que começa com um episódio curioso e singular: bandidos, após confundi-lo com um outro Lebowski ricaço, mijam no tapete de sua sala. Logo no tapete que, além de bonito, ajudava a compor “tão bem” a sala de sua casa. Aconselhado por seus parceiros de boliche, o veterano do Vietnã Walter (John Goodman) e o inquieto Donny (Steve Buscemi), o Cara decide procurar seu desconhecido chará para cobrar satisfações e, claro, um tapete novo. Segue-se uma história que mistura, acreditem, um sequestro, uma feminista, uma banda nazista, um produtor de filmes pornôs e um pedófilo chamado Jesus.

Durante as quase 2 horas de O Grande Lebowski, encontramos uma história que celebra o poder da perseverança e das coisas simples da vida contada por dois cineastas cuja especialização no humor nonsense garantiu que elementos aparentemente tão díspares, como os citados acima, funcionassem – e funcionassem bem – na tela. O Cara, que é descrito no início do filme não como um herói, mas sim como o homem certo para um determinado tempo e lugar, é fruto das mentes dos Irmãos C0en, Joel e Ethan, que escreveram, dirigiram e produziram esse filme logo após sucesso do oscarizado Fargo.

O Grande Lebowski - Cena 3

De fato, não há nada de trágico ou de redentor no personagem. Podemos dizer até que, durante toda a história, ele não aprende exatamente nada. O que torna-o especial e digno de nossa atenção é sua capacidade de suportar tudo e todos a sua volta, o poder de continuar, de “permanecer” (como ele descreve em um diálogo significativo próximo a conclusão da trama) independente de qualquer coisa. Esta, no entanto, é uma conclusão a qual se chega APÓS ver o filme quando tu para pra pensar sobre o significado daquilo que viu. DURANTE a sessão, é possível apenas rir ou ficar chocado com as situações esdrúxulas e os personagens bizarros criados pelos Coen. Nesse ponto, devo dizer que, mesmo reconhecendo que O Cara é um sujeito bacanudo e que a atuação do Jeff Bridges para ele é soberba, o grande atrativo de O Grande Lebowski, na minha opinião, é o irritadiço e eloquente veterano interpretado pelo John Goodman.

O Grande Lebowski - Cena 4

Walter Sobchak é uma pilha de nervos ambulante. Veterano do Vietnã, ele discursa o tempo todo sobre as táticas usadas naquela guerra e sobre como as pessoas não valorizam o estilo de vida que os esforços dele e de seus companheiros haviam garantido para todos os americanos. Walter não gosta de ser interrompido enquanto fala e demonstra um apego doentio a regras e a lei, o que o faz, por exemplo, sacar uma arma e ameaçar atirar em um homem em uma cena onde, segundo ele, o mesmo roubou no jogo de boliche. Essa personalidade explosiva e violenta, que em alguns momentos chega a irritar (mérito do ator), torna-se um elemento humorístico agradabilíssimo quando a história do tapete do Cara desenvolve-se para um resgate de um sequestro. Walter julga que suas habilidades de guerra podem ser úteis para o caso e, mesmo sem o amigo pedir, resolve ajudá-lo.  A cena da troca da mala de dinheiro, na qual os personagens tem um revés inesperado em uma ponte, é a minha favorita de todo o longa. Destaco ainda, envolvendo o personagem, a entrevista com o garoto de  15 anos e, claro, a gritaria que ele promove em um café enquanto é observado por meia dúzia de clientes assustados. É difícil entender, principalmente após ver a lista dos indicados daquele ano, o motivo do ator não ter concorrido ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante pela atuação.

A expressão do Buscemi HUAHUAHU

A expressão do Buscemi HUAHUAHU

Mais sutil do que Walter, mas nem por isso menos importante para o conjunto, é o talento dos Coen para produzir imagens agradáveis aos olhos. Lembro que a primeira vez em que eu assisti um filme e consegui, da fato, verificar que havia algo “diferente” nas cores mostradas na tela, nos enquadramentos e nos posicionamento dos atores em cena foi no Onde os Fracos Não Tem Vez, longa que, talvez devido a exposição ocasionada pelo Oscar, tornou-se o trabalho mais conhecido dos diretores. O Grande Lebowski já trazia esse mesmo cuidado com a estética visual e ainda mostrava um elemento caótico que funcionava como um potencializador para as experiências visuais dos diretores: drogas. Em boa parte do filme, O Cara está “numa boa”, visivelmente chapado, e isso faz com que ele tenha visões de acontecimentos fantásticos que as câmeras dos Coen nos mostram com detalhes: Jeff Bridges voa sobre Los Angeles, é engolido pelo buraco de uma bola de boliche e dança com a Julianne Moore (um fetiche ambulante vestido com uma roupinha viking, referência direta a “masculinidade” da personagem) em um musical a la Broadway.

O Grande Lebowski - Cena 5

Comédias de humor nonsense não são exatamente um gênero que possamos classificar como popular, mas acredito que, até mesmo devido a simplicidade de seu tema, O Grande Lebowski dificilmente desagradará quem decidir investir nele algum tempo. Enquanto estou escrevendo a conclusão desta resenha, lembrei da luta do Cara e seus amigos contra a banda de nazistas e não pude deixar de rir sozinho. Lembrei também do carro do personagem, um Ford Torino caindo os pedaços, e ri novamente. Walter destruindo, por engano, o carro que um homem havia acabado de comprar? Outra risada. “Vou colocar esse revólver dentro do seu rabo e fazer *CLIC*”…. FAZER CLIC! Se essa frase, que é dita por uma sujeito rebolativo chamado Jesus, não é o suficiente para convencê-lo do potencial desse filme, confesso que não tenho mais argumentos para você, caro leitor, e encerro aqui esse texto.

NOBODY FUCKS WITH THE JESUS!

NOBODY FUCKS WITH THE JESUS!

Minhas Mães e Meu Pai (2010)

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Classificar Minhas Mães e Meu Pai como uma comédia romântica e tentar vendê-lo como uma é um erro. Ninguém diz que Matrix é uma comédia porque o Neo chama os Agentes para lutar com um gesto debochado ou classifica o filme como um romance porque ele tem um relacionamento com a Trinity. O concorrente ao Oscar de Melhor Filme Minhas Mães e Meu Pai é um drama, um filme que tem sido pouco comentado em relação aos outros concorrentes mas que é sem dúvida alguma o que desenvolve melhor seus personagens, dividindo ainda com o A Rede Social o mérito de trabalhar com temas atuais que certamente encontrarão empatia junto ao público.

O tal tema atual a que me refiro é colação de velcro o relacionamento gay, no caso o da médica Nic (Annette Bening) com a paisagista (sic) Jules (Julianne Moore). Elas tem dois filhos, Joni e … PAUSA … LASER! Sim meus amigos, tem um mano chamado LASER nesse filme. Os dois foram concebidos através de inseminação artificial e foram criados tendo Jules  e Nic como pai e mãe. A pedido do irmão, Joni entra em contato com a clínica onde as mães fizeram a inseminação e consegue chegar até o doador do sêmen, o solteirão Paul (Mark Ruffalo). O encontro com o pai biológico provoca mudanças na vida dos adolescentes e traz à tona problemas e situações mal resolvidas do relacionamento de Nic e Jules.

Se você é do tipo puritano, deixe os beijos lésbicos entre Nic e Jules de lado e considere que a Nic é o homem da relação. Feito isso, AFIRMO que qualquer pessoa que já viveu um relacionamento longo irá sentir-se um pouco Nic ou Jules enquanto vê o filme. Nic é do tipo autoritária, perfeccionista, intelectual e irônica, daquelas pessoas que tentam manter tudo sobre controle mas que vez ou outra contradizem tudo o que costumam defender. Jules é do tipo carente, pragmática, aberta a coisas novas mas que quase nunca termina o que começa. O amor mantém as duas juntas, mas a chegada de Paul, um “espírito livre” que vive intensamente e é capaz de cativar facilmente as pessoas, faz com que os defeitos fiquem mais evidentes que as qualidade e a relação delas entra em crise.

Fora o fato de identificarmos nossas próprias paranóias e dificuldades para lidar com o outro nas belas atuações das atrizes, Minhas Mães e Meu Pai conta com um elenco de apoio muito bom, com personagens bizarros como a menina que só pensa em sexo e um gay não assumido que tenta urinar em um cachorro. Em um momento ou outro, a gente ri. Em uma cena ou outra, o amor é colocado no centro das atenções. Mas acreditem em mim, o filme passa muito longe de ser uma dessas comédias românticas com a Jennifer Aniston e com o Ashton Kutcher. Trata-se de um filme que explora problemas comuns em relacionamentos e que faz isso sem o uso de vibradores e piadas sobre sexo. A ausência da tradicional “lição de moral” aproxima o filme da realidade, com todos os personagens sendo mostrados como pessoas sujeitas a erros e acertos.

Minhas Mães e Meu Pai escorrega um pouco no final, principalmente com o destino do personagem do Mark Ruffalo, mas nem isso estraga todo o belo trabalho feito durante o filme. Como é praticamente impossível que ele ganhe como Melhor Filme (apesar de ser MUITO superior a alguns dos favoritos, como o O Discurso do Rei e o Bravura Indômita), torcerei para que a Annette Benning ganhe como Melhor Atriz.

Magnólia (1999)

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Magnólia começa com 3 pequenas histórias sobre coincidências incríveis, coisas como um homem ser assassinado por outros três homens cujos primeiros nomes formavam o nome completo da vítima. Uma edição frenética e criativa é acompanhada por um narrador que nos coloca a seguinte questão: seriam apenas coincidências, um complexo resultado de ações e reações ou a manifestação de um “plano maior”?

Antes que tenhamos tempo para pensar a respeito, o diretor Paul Thomas Anderson (Sangue Negro, Boogie Nights) nos joga para dentro de uma trama complexa que comporta vários personagens e histórias diferentes. Um a um, atores como Tom Cruise, Philip Seymour Hoffman, Julianne Moore, William H. Macy, Alfred Molina e John C. Reilly vão sendo introduzidos no filme. Em comum, todos tem alguma espécie de pendência no passado, alguma situação mal resolvida que determinou o rumo que a vida deles tomou. Tal qual acontece no Short Cuts – Cenas da Vida, do Robert Altman, em um algum momento todos os personagens serão unidos por um determinado evento, no caso um episódio MUITO peculiar envolvendo sapos. Sim, sapos.

Magnólia é daqueles filmes que podemos classificar como sendo “para poucos” sem medo de parecermos arrogantes. Ele recompensa quem gosta de cinema, quem vê um filme como uma obra de arte completa, não apenas como um passatempo. Digo isso porque, fora ser um drama de 3 horas onde, a grosso modo, os personagens “só” conversam, há no filme pequenos detalhes que poucas pessoas costumam perceber ou valorizar, como um trabalho maravilhoso com a câmera, com cenas que extendem-se por quase 3 minutos sem cortes, e uma quantidade enorme de referências e detalhes que são quase impossíveis de serem percebidos na primeira vez que assistimos. Convido quem já teve o prazer de ver o filme a ler esse texto aqui e tentar não impressionar-se com o nível de perfeição que o P. T. Anderson alcançou com Magnólia. Esse é daqueles que a gente termina de ver e diz que foi um dos melhores filmes que já vimos na vida. Magnólia é um evento, um filme onde cada minuto reserva um prazer diferente, um filme que nos faz ficar mais chatos por aumentar nosso nível de exigência, é o cinema em sua melhor forma.