Acabou, a série Jogos Vorazes acabou. O sentimento? Caras, não quero parecer injusto, mas tudo que senti após a sessão terminar foi a alegria de alguém que concluiu uma tarefa desagradável. Ainda que eu tenha tido bons momentos assistindo a história do levante da arqueira Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) contra a Capital, não posso deixar de pensar que nunca cheguei a ficar verdadeiramente empolgado com um lançamento da franquia. Desde que o primeiro longa estreou, lá em 2012, a qualidade das produções foi decaindo filme após filme e, mesmo que esse A Esperança – O Final seja sensivelmente melhor do que seu antecessor, não é errado dizer que a série já vai tarde. Conforme eu havia desconfiado quando escrevi a resenha do Parte 1, dividir a conclusão em dois filmes foi um erro que acabou com qualquer possibilidade da adaptação da obra da escritora Suzanne Collins despedir-se dignamente dos cinemas.
Após Katniss voltar-se abertamente contra Snow (Donald Sutherland) no final do Em Chamas, o que restou para ser contado? A revolução, certo? Katniss seria nomeada como o “Tordo” e lideraria as tropas rebeldes na luta contra a Capital. Em um filme de 2h30min, seria perfeitamente possível mostrá-la balançando entre a responsabilidade de ser o símbolo da revolução e a preocupação com Peeta (Josh Hutcherson), trabalhar a superação desse dilema, entreter o público com as cenas de ação que resolveriam o conflito e, no final, emocionar todos com as mortes, despedidas e desfechos das histórias dos personagens. A ganância, porém, fez com que os executivos da Lionsgate optassem por dois longas para mostrar esses eventos e, como se isso não fosse garantir-lhes dinheiro suficiente, já anunciaram a possibilidade de produzirem um quinto filme para a série, uma trama que funcionaria como uma prequência ou uma continuação direta do que vemos aqui. Certo de que não tenho interesse em ver mais cenas desnecessárias como aquelas envolvendo o gato da Katniss, declaro desde já que esse é o último título da franquia que levará o meu dinheiro. Chega de ser enrolado!
Agora que já desabafei, vamos ao que pode, de fato, ser visto nessa conclusão. Sem muito material para trabalhar, o diretor Francis Lawrence gasta boa parte do começo do filme com diálogos e cenas que servem para mostrar o estado mental perturbado de Peeta bem como a decisão de Katniss de ir pessoalmente atrás de Snow. Outros eventos importantes, como o apego excessivo que a Presidente Alma Coin (Julianne Moore) começa a demonstrar pelo poder e o casamento de Finnick (Sam Claflin), não recebem a devida atenção e são eclipsados pela insistência no triângulo amoroso formado por Katniss, Peeta e Gale (Liam Hemsworth). Resumindo, esse começo é uma prolongamento de tudo aquilo que foi visto no Parte 1, ou seja, um monte de nada.
Na sequência, quando Katniss finalmente decide partir para o ataque, o diretor nos dá um pouco daquele tipo de tensão que garantiu as melhores cenas dos primeiros filmes. O perímetro que cerca o palácio de Snow está repleto de armadilhas mortais e muitos personagens entregarão suas vidas para que o grupo da heroína consiga avançar. Quando veja cenas fantásticas, como aquela do óleo quente, não consigo deixar de pensar que a série poderia ter rendido muito mais. A violência daquela imagem das correntes erguendo um soldado no ar, momento que é acompanhado por uma música amedrontadora, é melhor e mais impactante do que TODAS as cenas do filme anterior. Boa também é a fuga no esgoto (ainda que o conteúdo emocional envolvendo o Finnick, que fora plantado lá no casamento, não seja devidamente aproveitado), mas para por aí. O que vem na sequência, além de previsível, é mal executado (ou seria mal editado? a culpa foi sua, Francis?) e muito, MUITO decepcionante.
Vamos lá: Há um governo ditatorial. Esse governo coloca os cidadãos uns contra os outros em jogos sádicos. Uma das jogadoras revolta-se contra o governo e inspira uma revolução. O governo é derrotado. Foi essa a história que acompanhamos, nos últimos 3 anos, na série Jogos Vorazes. Com altos e baixos, a trama chegou em seu momento decisivo e, quando todos esperavam um final épico em que o último ponto acima citado (o governo é derrotado) fosse desenvolvido, surpreenderam-nos com uma conclusão em que esse desfecho é, na maior parte do tempo, apenas DESCRITO em diálogos. É isso mesmo: gastaram 4 filmes, sendo um deles completamente dispensável (Parte 1), para resolverem todos os problemas e conflitos da trama em meros 10 minutos de conversa fiada. A correria, aparentemente, foi para garantir tempo na tela para o final água com açúcar mais do que anunciado entre Katniss e Peeta. O clima onírico forçado que dá o tom da cena, porém, não chega nem aos pés da sinceridade de outros momentos menores e mais tocantes, como o beijo de despedida entre Haymitch (Woody Harrelson) e a excêntrica Effie (Elizabeth Banks).
Estou feliz com o fim (?) da franquia Jogos Vorazes, mas pelo motivo errado: mais do que satisfeito com o dinheiro e com o tempo que investi assistindo os filmes, estou aliviado por não precisar mais escrever sobre eles. Nunca mais. UFA!