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Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) (2014)

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Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)Obs.1: Texto REPLETO de **SPOILERS**

Obs.2: Boyhood é superficial? Vergonhoso seus comentários durante a transmissão do Globo de Ouro, Sr. Rubens Ewald Filho.

Obs.3: Hey, Lucian, vá se foder com esse blog e suas críticas pedantes, superficiais, esquemáticas e mongolóides.

Opa! Bem, não são todos os dias que começo uma resenha menosprezando o meu próprio trabalho. Convido-me a auto felação após entrar em estado de embasbacamento total diante do novo trabalho do diretor espanhol Alejandro González Iñárritu (Biutiful). Dentre todos os momentos de gozo cinematográfico que a obra oferece, há um que particularmente me roubou o sono na última noite, portanto começo o texto falando diretamente sobre ele, que é uma cena intermediária, para exorcizar de uma vez por todas os meus demônios criativos.

Riggan (Michael Keaton) entra em um bar após ser ovacionado pelo público na apresentação de seu espetáculo na Broadway. Sentada em um canto fazendo anotações em um bloco de papel, está uma importante crítica de teatro conhecida pelo sucesso ou infortúnio das peças estreantes. Riggan pede dois drinks para o garçom e senta-se junto a mulher visivelmente ansioso para conhecer a avaliação que ela fizera de seu trabalho. A conversa que acontece na sequência é um desastre total. Entre outras coisas, a crítica diz que o ator nunca foi uma celebridade e que ela despreza tudo aquilo que ele fez durante a carreira. Afirmando que o teatro não é para qualquer um, ela sentencia a apresentação ao fracasso e promete fazer de tudo para manter Riggan longe dos palcos.

Birdman - Cena 4Ainda que a personagem seja construída com doses cavalares de soberba e arrogância, senti um dolorido tapa na cara ao ver o desprezo que ela destina ao trabalho alheio. Não raramente, também destilo meu veneno contra produções que não me agradam e, mesmo que os meus textos não tenham o alcance e/ou influência daqueles produzidos pelos chamados “críticos profissionais”, é desagradável pensar que posso estar sendo injusto com os esforços de outrem tal qual acontece nessa cena. Rotulo os filmes com termos pejorativos como “clichê” e “superficial” mas tenho plena consciência de que muitas vezes meus textos também são ruins e pedantes. Todo caso, procuro me policiar para não me achar o dono da verdade e nem transformar o exercício da crítica (que sim, é necessário para a arte) em uma válvula de escape para as minhas frustrações. Não me encaixo no perfil de cara que transformou-se em crítico por não conseguir seguir carreira cinematográfica nem escrevo ataques pessoais, mesmo quando detono profissionais do setor, pelo motivo óbvio que eu não conheço nenhum deles. Mesmo levando tudo isso em consideração, enxerguei-me um pouco na personagem e achei necessário fazer essa auto crítica principalmente devido ao que Riggan responde para ela.

_AF_6405.CR2“Está vendo essa flor”, diz o personagem segurando uma margarida, “você consegue tocá-la e até mesmo sentir o cheiro dela. Provavelmente, você também tem um conceito para ela, mas tu nunca conseguirá SENTI-LA  de verdade”. O texto, provável desabafo de Iñárritu contra os críticos, não provoca debate dentro da trama. A crítica detona a peça, leva uma ensaboada épica e o filme segue sem a tréplica. Riggan tem um ponto de vista interessante (o realizador precisa menos do crítico do que o crítico do realizador) e o fato de estarmos acompanhando-o coloca-nos instantaneamente do lado dele. A cena funciona muitíssimo bem, mas nem por isso devemos levá-la ao pé da letra e demonizar a crítica. Assim como em todos os campos, existem bons e maus profissionais escrevendo suas impressões e nivelar a prática tendo como base personagens quase caricaturais como a antagonista de Riggan e/ou equivocados como o Rubens Ewald Filho na situação citada previamente é um erro deveras infantil. Sai demônio!, e que eu não volte a perder o sono outra vez questionando a validade do que faço com tanto amor.

Birdman - Cena 6Dito isso, resta-me apenas a completa rendição diante do talento monstruoso do diretor espanhol. Amo o trabalho do Wes Anderson e adorei O Grande Hotel Budapeste, mas acredito que, para termos de premiação, o conjunto apresentado pelo Birdman só pode ser comparado em qualidade dentre os concorrentes ao Boyhood. Se O Linklater merece todos todos os créditos por ir contra o imediatismo da indústria e produzir um projeto pessoal cheio de carinho e detalhes ao longo de 12 anos, Iñárritu deve ser reconhecido por resgatar os planos sequência de mestres como o Hitchcock em obras como Festim Diabólico e transformá-lo em um filme ambicioso que dá a impressão de ter sido rodado em uma tomada só. Contrariando a lógica do cinema blockbuster com seus cortes constantes e edição frenética, Birdman traz longas sequências de diálogos e movimentação dos personagens através dos cenários que acontecem sem cortes. Conforme os repórteres da TNT faziam questão de lembrarem o tempo todo durante a transmissão do Globo de Ouro, a técnica impressiona pela dificuldade de sua execução, já que bastava um ator errar uma frase ou posicionar-se no local errado para que toda a cena necessitasse ser reiniciada do zero. Mais do que dificuldade, porém, vejo a beleza singular do método, visto que tudo fica mais intenso, e a inventividade do diretor para fazer as poucas transposições de cena que acontecem, como aquela belíssima em que ele focaliza o céu e acelera o tempo para transformar noite em dia antes que a câmera volte a acompanhar os personagens.

Birdman - Cena 2À técnica, junta-se o incrível roteiro vencedor do Globo de Ouro de Melhor Roteiro Original, um texto repleto de metalinguagem escrito pelo próprio Iñárritu. Michael Keaton, que também levou merecidamente uma estatueta como Melhor Ator pelo papel, interpreta Riggan, mas quem conhece um pouco da carreira do ator certamente conseguirá somar 1 + 1 e perceber que ele está interpretando a si mesmo. Birdman, personagem fictício que Riggan viveu em 3 longas, nada mais é do que uma referência escancarada aos dois Batman que Keaton rodou no começo da década de 90 com o diretor Tim Burton. Na trama, Riggan luta contra o ostracismo que a sua carreira entrou após os filmes do super heróis e, para tanto, ele escreve, dirige a atua em uma peça de teatro na Broadway esperançoso de produzir algo relevante que faça seu talento ser reconhecido.

O tema da crise de meia idade é muitíssimo bem construído por Iñárritu, que criou um personagem que usa peruca e possui aversão a redes sociais como forma de mostrar o distanciamento dele com o público que ele ainda pretende cativar. Também chama a atenção a caracterização do personagem do Edward Norton, que possui uma personalidade explosiva tal qual a do próprio ator na vida real, os diversos diálogos que fazem referência ao mundo do cinema (como quando cogitam o Michael Fassbender para a peça) e as passagens com toques surrealistas que compõe as conversas de Riggan com o próprio Birdman. Ver o ator transformar-se no herói no meio de uma rua que começa a ser atacada do nada por um pássaro biomecânico gigante foi uma das coisas mais insanas e legais que eu lembro de ter assistido em um longa “sério.”

Birdman - Cena 5Birdman está repleto de grandes cenas e grandes diálogos e eu assisti a cada uma delas com a alegria de uma criança que encontra sob a árvore de natal exatamente aquilo que ela pediu para o Papai Noel. Perdi as contas de quantos “Nossa!”, “Olha essa câmera!” e “Caralho!” que eu soltei durante a projeção, mas devo dizer que, fora a cena da conversa entre ator e crítica que citei no início do texto, fiquei especialmente impressionado com a engenhosidade da sequência que o Michael Keaton caminha pela rua só de cueca até entrar no teatro e emendar uma improvisação magnífica para a cena em curso e, claro, com o final. Este, aliás, é daqueles que convidam o espectador a tirar suas próprias conclusões e, ao meu ver, o sorriso da lindinha Emma Stone é um indicativo de que Riggan também exorcizou seus demônios e fez as pazes com o seu passado após conseguir vivenciar o sucesso de público E crítica que ele tanto ambicionara. Sem mais delongas, digo-vos que Birdman é disparado um dos melhores filmes que saíram em 2014 e declaro desde já a minha torcida para que ele vire o jogo no Oscar e conquiste todos os prêmios que disputar, inclusive o de melhor filme. Nada contra os outros concorrentes, gostei da maioria dos que vi até agora, mas acontece que o Iñárritu transcendeu alguns limites com esse trabalho e me deu uma das melhores e mais completas experiência cinematográficas que eu já tive na vida. Que ele vença tudo.

Birdman - Cena

Oblivion (2013)

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OblivionEste texto conterá SPOILERS (satisfeito, Lucas? rs)

Blasé é um termo de origem francesa que expressa indiferença e apatia perante alguma coisa. Tais sentimentos advém, da parte de quem os sente, da falta de originalidade do obejto/assunto em questão. Por outro lado, a expressão também é comumente associada a arrogância e a soberba, pois dificilmente alguém que possua uma bagagem cultural maior do que a dos outros será bem visto por criticar algo foi aprovado por uma maioria desinformada.

A crítica cinematográfica, principalmente aquela que aborda filmes que o autor do texto não gostou, apoia-se costumeiramente em argumentos blasé. “Já vi isso antes… e melhor” é o recado. Lembro, por exemplo, de um amigo dizer que não gostou de Avatar porque o mesmo era “chupado” de um filme de ficção científica obscuro da década de 80 que só ele conhecia. Provavelmente ele tenha razão, já que ele tem um vasto conhecimento da área e o roteiro do James Cameron é reconhecidamente comum, mas a minha reação imediata foi chamá-lo de arrogante e pedante. A conversa seguiu em um tom amistoso, mas a reflexão mostra que a cobrança por originalidade, na maioria das vezes, é uma luta inglória. Alguém que tivesse mais conhecimento do que ele, por exemplo, poderia surgir na mesma conversa e dizer que o tal filme obscuro era uma cópia mal feita de outro filme mais obscuro ainda e então a bola de neve desceria a montanha. Concordo que é chato ver que os filmes estão cada vez mais obedecendo certas fórmulas que já provaram-se rentáveis, mas isso não os torna necessariamente ruins, até porque fórmulas são aperfeiçoadas e não é raro encontrar cópias melhores do que originais.

Oblivion - Cena

Mas e o Oblivion, é bom ou não?, vocifera o leitor cansado de tando blablabla. Oblivion é uma colcha de retalhos, um filme de ficção científica que pega vários elementos de outras produções de sucesso e mistura dentro de uma panela de efeitos especiais cujo resultado é um caldo fraco, insosso e desnecessário dentro do gênero.

Jack Reacher (Tom Cruise) e Victoria (Andrea Riseborough) formam uma equipe eficiente em um mundo pós-apocalíptico. Em um futuro não muito distante, a Terra foi atacada por seres vindos do espaço e, apesar de termos vencido, o planeta deixou de ser um local habitável devido ao acionamento de armas nucleares. A população remanescente do conflito mudou-se para Titã, uma das luas de Saturno, e Jack e Victoria foram designados para permanecerem aqui, em uma base suspensa nas nuvens, fazendo a manutenção de gigantescas estruturas que retiravam energia dos oceanos para enviar para Titã. Jack, que desce diariamente até as ruínas do planeta, é atormentado pela lembrança insistente de um encontro com uma mulher (a tetéia Olga Kurylenko) e começa a questionar aquela missão após entrar em contato com seres misteriosos que vivem entre os escombros.

Oblivion - Cena 4

Oblivion, como o cartaz orgulhosamente anuncia, é do mesmo diretor de Tron – O Legado (Joseph Kosinski) e dos produtores de Planeta dos Macacos – A Origem, dois filmes frutos da onda de remakes/prequências de Hollywood que, apesar de terem seus méritos (o segundo mais do que o primeiro), não primam pela originalidade. Não era de se esperar, portanto, que algo nascido dessa pareceria fosse seguir um caminho diferente, mas filmes como Prometheus estão aí para provar que é possível reutilizar idéias antigas para criar novas e excelentes histórias. Infelizmente, não é o que acontece aqui.

A nave/veículo que Jack usa na trama é, sem dúvidas, o ponto que mais recebeu atenção dos produtores. O design, a movimentação e os efeitos especiais usadas nela, assim como aqueles que foram vistos no Tron, são de deixar a boca aberta. O comentário, aliás, estende-se aos drones de combate e, de forma geral, a tudo que é feito usando CGI no filme, como a imagem da lua destruída que pode ser vista no horizonte da Terra. O som também está espetacular, quem arriscar ver o filme pode tranquilamente investir uma grana para assistir em uma sala que valorize o recurso, como a XD do Cinemark.

Oblivion - Cena 3

Agora vamos finalmente a questão do blasé. Elementos fundamentais que compõe o mundo criado para Oblivion lembram outros clássicos da ficção em um nível muito próximo da cópia descarada.

  • O “olho” vermelho dos Drones e do “ser” que encontra-se dentro da estação espacial são iguais ao HAL 9000 do 2001 – Uma Odisséia no Espaço. O tal ser, aliás, também lembra o o inimigo do … Tron – O Legado.
  • A Zona Proibida que é mencionada no filme, lugar que dizem estar contaminado pela radiação nuclear, também é um conceito utilizado na série O Planeta dos Macacos.
  • Os seres que Jack encontra na superfície do planeta tem o visual dos personagens do O Livro de Eli e os propósitos dos “despertados” do Matrix.

O que eu trato como cópia, em outros momentos e sobre outros pontos de vista, pode facilmente ser entendido como referência, homenagem. Os filmes do Tarantino, por exemplo, são cheios dessas cópias/referências e eu adoro todos eles. O problema é que, fora essa sensação chata de já vi isso antes (e aqui, sinceramente, não acredito que a intenção seja homenagear), a trama é ruim e cheia de momentos massantes e clichês.

Oblivion - Cena 2

O início, que compreende um monólogo do Tom Cruise explicando o contexto da história, é rápido demais, vomitam nomes e mais nomes, acontecimentos e datas sem importância na cabeça do espectador. Seguem as diversas descidas até o planeta, que servem mais para mostrar a nave do que para fazer a história avançar, e ceninhas bonitas mas inúteis dentro da trama, como quando ele e Victoria nadam na lindíssima piscina da estação. Alguns dos arcos mais importantes da história, que envolvem o núcleo dos personagens comandados pelo Morgan Freeman e a clonagem, aparecem já nos minutos finais e não são desenvolvidos satisfatoriamente. Tom Cruise apresenta uma das piores atuações de sua carreira e algumas das sequências de ação cansam antes mesmo de começarem devido a previsibilidade do que acontecerá. A perseguição dos drones à nave do personagem é um bom exemplo, uma reciclagem de uma das cenas finais do Tron que acaba como a maioria esmagadora das cenas do estilo, ou seja, com a nave passando em um lugar super apertado onde os inimigos batem e explodem.

É praticamente impossível alguém produzir algo totalmente novo. Não são raras as vezes que as minhas resenhas repetem temas, raciocínio, reclamações e elogios. No entanto, eu nunca voltei em algum texto meu que teve muitos acessos e comentários e o utilizei como molde para escrever um novo. Oblivion é um filme sem vergonha, um produto pasteurizado fabricado com o único propósito de vender ingressos. Assumo, conscientemente, a postura blasé e, nesse caso, não me importo de ser chamado de pedante e arrogante: o cinema não precisa de mais filmes como este.

Oblivion - Cena 5