Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda do Santuário (2014)

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Os Cavaleiros do Zodíaco - A Lenda do SantuárioHá duas formas de assistir e analisar essa adaptação da história dos Protetores da Atena para os cinemas. Em uma delas, avalia-se tão somente aquilo que é apresentado sem levar em conta o saudoso anime que estreou por aqui em 94 na grade da extinta TV Manchete. Alguém que nunca assistiu um episódio sequer da série certamente consegue fazer isso, pagar o ingresso para ver a animação e decidir se ela é boa ou ruim apenas com base no que é exibido. A outra forma, tão imatura quanto sincera, é compará-lo ostensivamente com o desenho que cresci assistindo, dizendo para o leitor (que eu julgo que também seja fã) se o dinheiro e tempo investido valem ou não a pena. Opto sem titubear por essa segunda opção: não dá para falar de Cavaleiros do Zodíaco sem nostalgia e paixão. Aviso, portanto, que o texto estará repleto de SPOILERS.

Não faz muito tempo, baixei e revi toda a Saga do Santuário que, para mim, sempre foi o melhor momento de Seiya e cia. O quebra-pau contra a Hilda é chatão (aquela armadura de Odin é horrível) e as lutas contra Poseidon e Hades tem lá seus momentos, mas é ali na Batalha das 12 Casas que o desenho ganhou meu coração. Digo isso porque Os Cavaleiros dos Zodíaco: A Lenda do Santuário é baseado exatamente nessa saga, fato que me fez ficar empolgadíssimo com a produção. Definitivamente, não era necessário reinventar a roda, bastava refazerem em CGI os melhores momentos das batalhas contra os cavaleiros de ouro e bolar um roteiro minimamente decente  que resumisse a história do que acontece antes delas. E não é que, no início, eu tive a impressão de que os caras haviam entendido isso?

Os Cavaleiros do Zodíaco - A Lenda do Santuário - Cena Os primeiros minutos de A Lenda do Santuário são impecáveis. Em uma sequência que usa o que há de melhor da computação gráfica atual, Aioros, o cavaleiro de Sagitário, foge do Santuário levando a pequena Saori nos braços. Perseguido por Shura de Capricórnio, ele é derrotado e cai dos céus para o que parecia ser a morte certa. A cena, que mostra os dois guerreiros digladiando-se em um céu repleto de estrelas, é sensacional (talvez até mesmo a melhor de todo o filme) e dá a entender que, apesar de todas as mudanças no visual, veríamos exatamente aquilo com que sempre sonhamos.

Na sequência, os fãs sentem as primeiras mudanças necessárias para a transposição da saga (que foi contada originalmente em 73 episódios de 23min cada) para o formato cinematográfico. Aqui algumas coisas começam a irritar. A Lenda do Santuário tem apenas 93min, que é a duração padrão da maioria das animações que chegam atualmente nos cinemas visando o público infantil. Considerando que trata-se de um desenho que foi exibido pela primeira vez em 1986 e que a maioria do público que o aprecia hoje está na casa dos 25-30 anos, é um erro deveras grosseiro fazê-lo usando os mesmos moldes de produções voltadas para os pimpolhos. Não há sangue, e percebe-se que com meia hora a mais, por exemplo, seria possível mostrar minimamente como foi o treinamento de cada um dos cavaleiros, o que não acontece. Mitsumasa Kido encontra Aioros, recebe sua missão e PUF! lá está a Saori adolescente recebendo um tutorial wikipediano do Tatsumi sobre como tornar-se uma deusa e salvar o universo. Um cavaleiro “dumal” genérico qualquer ataca o carro em que eles estavam e PUF! Seiya, Shiryu, Hyoga e Shun aparecem, vestem suas armaduras, despacham o infeliz e juram proteção à Deusa Atena. Tudo tão rápido quanto um Capsula do Poder.

Os Cavaleiros do Zodíaco - A Lenda do Santuário - Cena 3Conforme dito no primeiro parágrafo, me recuso a avaliar uma cena dessas como se eu não conhecesse aqueles caras. Aquele cabeludo lá não é só o cavaleiro de Dragão, ele é o Shiryu, o sujeito que reverteu o fluxo das águas da cachoeira de Rozan. O loirinho com pinta de playboy não é só o cavaleiro de Cisne, ele é o Hyoga, o sujeito que teve o seu coração destroçado por um soco e, no melhor estilo “pegadinha do malandro”,  mostrou ao mundo o poder de proteção do amor materno. O menino delicado do cabelos verdes não é só o cavaleiro de Andrômeda, ele é o Shun, ser cintilante que usa uma armadura perto da qual os bat-mamilos do Joel Schumacher são objetos de orgulho hetero. Finalmente, o saco de pancadas lá não é somente o cavaleiro de Pegasus, ele é o Seiya, o cara que cortou a orelha do gigante Cassius e que reativou o coração do Shiryu com um soco. COM UM SOCO! Não dá para apresentar esses caras em uma cena de 5 minutos, assim, como se eles fossem qualquer um. De todas as escolhas que precisaram serem feitas visando a economia de tempo, essa foi sem dúvida alguma a pior, ainda que, pasmem, não tenha sido a pior. Mas antes de velarmos o Afrodite vamos comentar sobre as escolhas visuais.

Os Cavaleiros do Zodíaco - A Lenda do Santuário - Cena 4Pessoalmente, eu prefiro as armaduras de bronze que os cavaleiros usam na Batalha do Santuário do que aqueles modelos Slim Fit adotados na saga da Hilda. Por mais “trambolhosos” que eles sejam, eles tem um certo charme que aquelas tiaras e cintinhos adotados depois não conseguiram imprimir aos personagens. Aqui não só optaram pelas armaduras mais “econômicas” como introduziram um capacete horrendo nelas, uma espécie de proteção facial que simplesmente impede que a gente veja todas aquelas divertidas caras de pânico que Seiya e cia faziam enquanto apanhavam. Inexplicavelmente, também mudaram o visual do Tatsumi, que agora é cabeludo, deixaram a Saori a maior parte do longa com cabelo curto e trocaram o sexo do cavaleiro de Escorpião: sai Miro, de cabelo azul, e entra a ruiva Milo. Já que era para transformar homem em mulher, não poderiam ter usado o Afrodite, que sempre esteve mais pra lá do que pra cá? Não, para o cavaleiro de Peixes eles reservaram algo muito mais cruel que será comentando abaixo.

Os Cavaleiros do Zodíaco - A Lenda do Santuário - Cena 6Não mostrar parte do treinamento e/ou história de cada um dos cavaleiros de bronze foi chato. Arrumar um jeito estranhíssimo de eles teletransportarem-se para um Santuário modernoso não foi lá muito legal, mas é aceitável. Agora não, não mexam na sequência das Batalhas do Santuário, isso é imperdoável.

  • O Mu de Áries, coitado, após oferecer sua lealdade e ajoelhar-se diante da Atena, precisou ouvir da personagem que “eles estavam com um pouco de pressa”. Que falta de educação!
  • Aldebaran de Touro, o cavaleiro brasileiro (é verdade, olha aqui), talvez tenha sido o mais feliz na reprodução de sua luta. Rolou Grande Chifre e chifre cortado.
  • Simplesmente IGNORARAM a casa de Gêmeos e os links que ela fazia com a Casa de Libra.
  • Máscara da Morte de Câncer protagonizou um dos momentos mais vergonhosos da história do cinema ao ser transformado em um alívio cômico ridículo. Colocaram-no para dançar e cantar no meio de umas máscaras coloridas e, pior, fizeram dele a grande luta do Shiryu no Santuário, quando todo mundo esperto sabe que a pancadaria memorável do cara foi com o Shura.
  • Aioria de Leão foi outro que podemos dizer que recebeu a devida atenção. Obviamente, por economia de tempo, a luta contra ele não tem aquele desfecho emocionante com a participação do Cassius, mas mesmo assim deu para relembrar das peripécias do Seiya para desviar o poderoso Capsula do Poder.
  • Shaka de Virgem: aqui o filme começa a descer ladeira abaixo. Colocaram-no como um pacificador na briga entre Aioria e Seiya e ignoraram a luta legalzona dele contra o Ikki.
  • Casa de Libra: sem o link do Hyoga na casa de Gêmeos, também foi ignorada. Pelo menos nos privaram de ver o Shun “aquecendo” seu companheiro.
  • Milo de Escorpião: usada para acelerar o filme. Com um golpe, ela empurra (!!!) Shun e Seiya para a casa de Sagitário, onde Shura, apressadinho, também aparece para bater nos personagens.
  • Kamus de Aquário, que dessa vez não precisou andar até na casa de Libras, recebe seu discípulo na sua própria casa e trava uma batalha até bacana com ele.

Os Cavaleiros do Zodíaco - A Lenda do Santuário - Cena 5A casa de Peixes merece um parágrafo à parte mas, antes, já que eu falei no Ikki ali atrás, façamos algumas considerações sobre o mesmo. O cavaleiro de Fênix sempre foi o badass do seriado, aparecendo em momentos cruciais para salvar os personagens com sua Ave Fênix e suas frases de efeito (Prepare-se para morrer, aliás, é a minha frase ruim favorita de todos os tempos). Aqui, no filme todo, ele não faz nada mais do que matar o fraco cavaleiro de Sagita e jogar um foguinho no Shura. Ridículo. Sobre o Afrodite, talvez a cena em que ele morre seja o momento mais emblemático desse A Lenda do Santuário. Ares/Saga, percebendo que a batalha estava perdida, simplesmente mata o cavaleiro de Peixes, assim, sem mais nem menos. Não sei vocês, mas apesar de todos os frufrus e frescurites, eu sempre considerei a luta dele com o Andrômeda uma das mais legais da série, o sujeito purpurinado realmente sabia como ser uma bitch com aquelas rosas piranhas. Não confiando no potencial de todas as lutas legais e memoráveis que levavam ao enfrentamento do cavaleiro de Gêmeos, resolveram despachar o Afrodite em uma cena de 5 segundos e investiram em… Montro gigante! Enquanto os poderosos cavaleiros de ouro brincam de destruir pedrinhas, Seiya combate Ares em uma luta totalmente inspirada nos últimos confrontos dos games da série Final Fantasy. Não ficou bom e a armadura de Sagitário, naquele formato equino, foi a cereja do bolo de decepção que o diretor Kei’ichi Sato fez com a obra do mestre Masami Kurumada.

Os Cavaleiros do Zodíaco - A Lenda do Santuário - Cena 7A Lenda do Santuário só não ocupará um lugar pior no meu coração porque esse espaço foi vendido na forma de contrato vitalício para o Dragon Ball Evolution. Vale a pena ver pela curiosidade? Sim, visto que algumas cenas até são legais e há sempre a chance de tu, assim como eu, empolgar-se com esses pequenos momentos e decidir rever a série antiga. Todo caso, não veja no cinema, abrace a mãe internet e mande um recado no formato de uma bilheteria ruim para os produtores: não aceitamos que vocês façam isso com nossa infância, Cólera do Dragão em todo vocês!

Os Cavaleiros do Zodíaco - A Lenda do Santuário - Cena 2

Uma resposta »

  1. Cara, que resenha legal! Dei altas risadas aqui! Obrigado pela dica, por um instante surgiu uma pequena vontade de ver o filme no cinema, mas rapidinho passou! Abraço, amiguinho.

    • É uma resenha marxista, com certeza…

      Não sinto nenhuma vontade de vê-lo depois do exposto. Obama e a casa branca irão retirar esse blog fora do ar.

      Boa resenha!

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