Eu gostei MUITO do Prometheus. Já passaram-se 5 anos desde que o Ridley Scott resolveu revisitar a franquia Alien e explorar as origens daquele universo, mas ainda lembro como se fosse ontem do quão empolgado eu fiquei quando saí do cinema após ver aquela história sobre Arquitetos, androides e a busca pela origem da vida.
Aparentemente, porém, nem todo mundo gostou do que viu. Clicando aqui, você lê uma nota sobre as mudanças que o diretor precisou fazer nessa sequência devido a rejeição de boa parte do público ao que foi mostrado no Prometheus. Nunca saberemos se Paradise Lost (Paraíso Perdido), a ideia que ele planejou originalmente para a sequência, calaria a boca dos críticos, mas é fato consumado que Alien: Covenant, com seus cenários equivocados e repetições, representa um passo atrás para a franquia.
A resenha conterá SPOILERS do Prometheus, ok?
É no espaço, aquele lugar onde ninguém te ouvirá gritar, que começa Covenant. Responsável pela nave cujo nome dá título ao filme, o androide Walter (Michael Fassbender) cuida para que a tripulação permaneça no sono criogênico até que o destino, um planeta distante que apresenta características semelhantes as da Terra, seja alcançado. Um incidente coloca em risco a integridade da nave e obriga Walter a acordar o pessoal antes da hora. Mesmo abalados pelas severas avarias e pela perda de seu capitão (participação relâmpago do James Franco), os membros da tripulação decidem interromper a viagem para checar um sinal de vida captado pela Covenant durante o tumulto. Daniels (Katherine Waterson) é a única que opõe-se a ideia de abandonar a missão original, mas seus argumentos são vencidos pela determinação do novo capitão, Oram (Billy Crudup), um homem de fé que acredita estar diante de uma oportunidade única de visitar e colonizar um novo planeta.
Quando assisti o trailer do Covenant, fiquei curioso para ver como todos aqueles cenários abertos seriam usados em uma franquia que, no princípio, valeu-se dos corredores escuros da nave Nostromo para criar uma ambientação claustrofóbica. Campos de trigo e florestas certamente ficam muito bonitos numa tela grande de alta definição, mas desconfiei que essas locações não funcionariam para o filme. E não funcionaram. O Alien não é o Predador, Ridley Scott. Não foi legal (e não deu medo) ver o xenomorfo esgueirando-se no meio daquele matagal e, na segunda metade da trama, toda aquela sequência na cidade abandonada (outro lugar enorme e aberto) foi apenas tediosa.
Se, ao tentar inovar, o diretor errou a mão, ele também não teve muita sorte quando apegou-se aos elementos clássicos da série. Estão lá a tradicional cena do peito explodindo de dentro pra fora, a protagonista seminua de cabelo curto, o androide traíra e o confronto final entre humanos e criatura. Não que essas cenas sejam ruins, mas a proximidade delas com o que já foi usado nos longas anteriores torna o material pra lá de previsível. Comparem a “batalha final” de Covenant com o clímax do Oitavo Passageiro. É praticamente a mesma coisa.
“Ah, mas você reclama quando o cara muda os cenários e também reclama quando ele repete certos elementos. Incoerência”. Reclamo mesmo. Não é incoerência. O problema aqui não é a mudança e/ou a repetição em si, mas a qualidade do que foi feito. A nova ambientação é ruim (botaram o alien no meio de um matinho, caras) e não foi lá muito surpreendente o fato de, mais uma vez, utilizarem o espaço como esquife para o xenomorfo.
A parte boa de Covenant acaba sendo justamente o desenvolvimento das teorias sobre a criação que foram mostradas no Prometheus. David e Elizabeth “retornam” à trama para reforçar a ideia de que a vida na Terra foi criada não pelo Deus bíblico, mas sim por viajantes espaciais que, aparentemente, não ficaram muito satisfeitos com sua criação e preparam-se para elimina-la. A primeira cena do filme, aquela que mostra David conversando sobre a essência da vida com seu criador, Peter Weyland (Guy Pearce), é disparado o momento mais inspirado de Covenant. O diálogo, que traz reminiscências do clássico Frankenstein (a criatura que levante-se contra o próprio criador) é bastante útil para entender a mudança de comportamento de David ao longo de Prometheus e contribui significativamente para que, no fim deste filme, a gente entenda com alguma antecedência o que acontecerá.
Alien: Covenant era uma das produções que eu mais queria assistir em 2017. Sabe quando anunciam aquelas listas de lançamentos do ano seguinte? Pois é, eu estava doido para ver este filme. Reservei uma tarde de sexta da minha semana, que é sempre muito corrida, só para ir ao cinema. Vibrei com a cena inicial que comentei no parágrafo anterior, mas após isso vi o Alien ser transformado em coadjuvante dentro de sua própria franquia e não gostei nenhum pouco disso. Nem o enorme talento do Fassbender justifica tamanho sacrilégio. A parte da ficção científica de Covenant é muito bem feita, com todos aqueles equipamentos high tech e naves espaciais enchendo a tela, mas há pouco terror, sangue e ácido alienígena aqui. Não deu certo, Ridley Scott. Da próxima vez, segue o plano original.