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Alien: Covenant (2017)

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Eu gostei MUITO do Prometheus. Já passaram-se 5 anos desde que o Ridley Scott resolveu revisitar a franquia Alien e explorar as origens daquele universo, mas ainda lembro como se fosse ontem do quão empolgado eu fiquei quando saí do cinema após ver aquela história sobre Arquitetos, androides e a busca pela origem da vida.

Aparentemente, porém, nem todo mundo gostou do que viu. Clicando aqui, você lê uma nota sobre as mudanças que o diretor precisou fazer nessa sequência devido a rejeição de boa parte do público ao que foi mostrado no Prometheus. Nunca saberemos se Paradise Lost (Paraíso Perdido), a ideia que ele planejou originalmente para a sequência, calaria a boca dos críticos, mas é fato consumado que Alien: Covenant, com seus cenários equivocados e repetições, representa um passo atrás para a franquia.

A resenha conterá SPOILERS do Prometheus, ok?

É no espaço, aquele lugar onde ninguém te ouvirá gritar, que começa Covenant. Responsável pela nave cujo nome dá título ao filme, o androide Walter (Michael Fassbender) cuida para que a tripulação permaneça no sono criogênico até que o destino, um planeta distante que apresenta características semelhantes as da Terra, seja alcançado. Um incidente coloca em risco a integridade da nave e obriga Walter a acordar o pessoal antes da hora. Mesmo abalados pelas severas avarias e pela perda de seu capitão (participação relâmpago do James Franco), os membros da tripulação decidem interromper a viagem para checar um sinal de vida captado pela Covenant durante o tumulto. Daniels (Katherine Waterson) é a única que opõe-se a ideia de abandonar a missão original, mas seus argumentos são vencidos pela determinação do novo capitão, Oram (Billy Crudup), um homem de fé que acredita estar diante de uma oportunidade única de visitar e colonizar um novo planeta.

Quando assisti o trailer do Covenant, fiquei curioso para ver como todos aqueles cenários abertos seriam usados em uma franquia que, no princípio, valeu-se dos corredores escuros da nave Nostromo para criar uma ambientação claustrofóbica. Campos de trigo e florestas certamente ficam muito bonitos numa tela grande de alta definição, mas desconfiei que essas locações não funcionariam para o filme. E não funcionaram. O Alien não é o Predador, Ridley Scott. Não foi legal (e não deu medo) ver o xenomorfo esgueirando-se no meio daquele matagal e, na segunda metade da trama, toda aquela sequência na cidade abandonada (outro lugar enorme e aberto) foi apenas tediosa.

Se, ao tentar inovar, o diretor errou a mão, ele também não teve muita sorte quando apegou-se aos elementos clássicos da série. Estão lá a tradicional cena do peito explodindo de dentro pra fora, a protagonista seminua de cabelo curto, o androide traíra e o confronto final entre humanos e criatura. Não que essas cenas sejam ruins, mas a proximidade delas com o que já foi usado nos longas anteriores torna o material pra lá de previsível. Comparem a “batalha final” de Covenant com o clímax do Oitavo Passageiro. É praticamente a mesma coisa.

“Ah, mas você reclama quando o cara muda os cenários e também reclama quando ele repete certos elementos. Incoerência”. Reclamo mesmo. Não é incoerência. O problema aqui não é a mudança e/ou a repetição em si, mas a qualidade do que foi feito. A nova ambientação é ruim (botaram o alien no meio de um matinho, caras) e não foi lá muito surpreendente o fato de, mais uma vez, utilizarem o espaço como esquife para o xenomorfo.

A parte boa de Covenant acaba sendo justamente o desenvolvimento das teorias sobre a criação que foram mostradas no Prometheus. David e Elizabeth “retornam” à trama para reforçar a ideia de que a vida na Terra foi criada não pelo Deus bíblico, mas sim por viajantes espaciais que, aparentemente, não ficaram muito satisfeitos com sua criação e preparam-se para elimina-la. A primeira cena do filme, aquela que mostra David conversando sobre a essência da vida com seu criador, Peter Weyland (Guy Pearce), é disparado o momento mais inspirado de Covenant. O diálogo, que traz reminiscências do clássico Frankenstein (a criatura que levante-se contra o próprio criador) é bastante útil para entender a mudança de comportamento de David ao longo de Prometheus e contribui significativamente para que, no fim deste filme, a gente entenda com alguma antecedência o que acontecerá.

Alien: Covenant era uma das produções que eu mais queria assistir em 2017. Sabe quando anunciam aquelas listas de lançamentos do ano seguinte? Pois é, eu estava doido para ver este filme. Reservei uma tarde de sexta da minha semana, que é sempre muito corrida, só para ir ao cinema. Vibrei com a cena inicial que comentei no parágrafo anterior, mas após isso vi o Alien ser transformado em coadjuvante dentro de sua própria franquia e não gostei nenhum pouco disso. Nem o enorme talento do Fassbender justifica tamanho sacrilégio. A parte da ficção científica de Covenant é muito bem feita, com todos aqueles equipamentos high tech e naves espaciais enchendo a tela, mas há pouco terror, sangue e ácido alienígena aqui. Não deu certo, Ridley Scott. Da próxima vez, segue o plano original.

O Mestre dos Gênios (2016)

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o-mestre-dos-geniosO WordPress, plataforma que hospeda o Já viu esse?, me enviou hoje uma notificação genérica de parabéns pelos 6 anos do blog. É muito tempo. É tanto tempo, aliás, que não posso mais negar que me tornei um escritor.

Sei que isso pode soar forçado, mas não é fácil reivindicar tal título. Na cabeça de muita gente, inclusive na minha até há pouco tempo, escritores “de verdade” são aqueles que já publicaram livros que podem ser encontrados nas livrarias. Assim sendo, como um sujeito me disse um dia desses com uma dose cavalar de arrogância, eu não poderia ser considerado um escritor, mas apenas um “blogueiro”, certo?

Sim, eu sou um blogueiro e não há nada de depreciativo nisso. Possuo um blog e procuro mantê-lo atualizado com muito carinho e dedicação. O fato de eu registrar meus pensamentos em uma plataforma virtual e não em um formato físico para comercialização, porém, não diminui o brilho ou a importância do que faço. O ato de escrever, acredito, depende muito mais da habilidade de conseguir comunicar algo a outrem, de ser apaixonado por transformar sentimentos em palavras, do que simplesmente ser publicado por alguma editora. É óbvio que eu gostaria que meus textos tivessem um alcance maior, mas por ora contento-me que eles contenham um pouco do que há dentro do meu coração. Há verdade no que escrevo, e isso e os 6 anos de dedicação são mais do que suficientes para que eu possa me reconhecer como escritor  😀

Não comecei esta resenha com o tema da escrita por acaso. O Mestre dos Gênios, filme que assisti no Cine Cultura de Brasília e que revi ontem com minha esposa, é baseado em fatos reais e conta a história do editor Max Perkins (Colin Firth), um homem que ajudou a dar forma a diversos clássicos da literatura norte americana. Entre outros, Max editou livros como O Grande Gatsby, do F. Scott Fitzgerald (Guy Pearce) e O Sol Também se Levanta, do Ernest Hemingway (Dominic West). A trama conduzida pelo diretor Michael Grandage dá conta do encontro de Max com Thomas Wolfe (Jude Law), um jovem escritor que procurava uma editora que acreditasse no poder de sua prosa musical e poética.

Não sei se vocês repararam, mas eu escrevi ali atrás que assisti O Mestre dos Gênios duas vezes nos últimos dias. Gostei MUITO do filme, daí resolvi vê-lo novamente tanto para compartilha-lo com minha esposa quanto para que eu pudesse escrever um texto mais completo e digno de todas as emoções que senti. Mesmo sem nunca ter lido nada do Thomas Wolfe, identifiquei-me muito com as qualidades e defeitos que o filme atribui ao escritor, de modo que assisti o filme todo como se eu estivesse olhando para um espelho. Encontrei muita coisa boa, mas também tive muitas oportunidades de repensar alguns atos e posturas.

Encantado com o estilo original de Wolfe, Max decide transformar o gigantesco manuscrito que ele recebeu em um livro publicável. O trabalho do editor consiste em lapidar as ideias do escritor de modo que elas tornem-se mais atrativas para o público, e isso as vezes inclui cortar trechos e tornar sucintos parágrafos que estenderam-se além do necessário. O problema é que Wolfe não é nenhum pouco sucinto. A beleza da escrita dele, aliás, está justamente nos muitos floreios descritivos e nas longas digressões de seus personagens. As discussões entre editor e escritor pela versão final do livro, bem como as consequências que o trabalho exaustivo da dupla tem em seus relacionamentos com suas respectivas esposas (Laura Linney e Nicole Kidman), ditam o ritmo do filme, que ainda traz valiosas citações à outras obras, como o Guerra e Paz do Tolstói (fiquei feliz por conhecer o livro e entender as referências rs), e uma boa parte dedicada ao F. Scott Fitzgerald. Resumindo, é um filme que deve agradar em cheio quem gosta de ler e escrever.

o-mestre-dos-genios-cena-2O Mestre dos Gênios é protagonizado pelo Max Perkins, mas fiquei encantado mesmo foi pela paixão e pela força criativa do Thomas Wolfe. Mesmo que alguns trechos dos livros dele que são lidos durante o filme não sejam o tipo de material que eu gosto (a escrita descritiva e minuciosa me lembrou o José de Alencar, cujo Til, de 234 páginas, eu tento terminar sem sucesso há incríveis 5 meses), não pude deixar de admirar o amor do personagem pela escrita e a determinação quase doentia que ele dedica a ela. Tudo que Thomas faz, incluindo seu relacionamento com o pai, as brigas com a mulher e suas noitadas ouvindo jazz e bebendo whiskey, tudo mesmo pode ser sentido na cadência de suas frases e na paixão de suas palavras. Ele escreve textos longos porque há dentro dele todo um universo de percepções gritando para serem colocadas pra fora. A cena em que ele discute com Max para dar forma a um capítulo onde um personagem apaixona-se é verdadeiramente fascinante.

o-mestre-dos-genios-cena-4Por outro lado, Thomas Wolfe também não deixa de ser um exemplo do que não fazer. Ele é divertido e talentoso, mas também mostra-se bastante egoísta e vaidoso quando as críticas positivas de seu livro começam a aparecer. Ao longo do filme, Wolfe acusa Max de deformar sua obra e é extremamente cruel com o Fitzgerald, que ele humilha durante um jantar tenebroso. O que mais chama atenção negativamente, porém, é o relacionamento dele com Aline, personagem da Nicole Kidman. Aline ajudou Wolfe a sair do anonimato, dando-lhe dinheiro e apoiando-lhe emocionalmente, apenas para ser ignorada por ele após o sucesso de seu primeiro livro. A indiferença dele para com o trabalho e os sentimentos dela, reflexo do egoísmo de seu caráter, é algo que faz Max repensar o jeito que ele também estava tratando sua esposa e suas filhas. Eis uma bela oportunidade para fazermos o mesmo: avaliar se não estamos deixando nossa dedicação ao trabalho e/ou projetos pessoais atrapalharem nossas relações familiares e nossas amizades.

Eu ficaria bastante satisfeito se o Jude Law fosse indicado ao Oscar ou ao Globo de Ouro pelo que ele fez aqui, o que tanto coroaria a ótima atuação dele quanto daria mais visibilidade para o filme. Se isso não acontecer, já considero-me realizado por ter assistido O Mestre dos Gênios no Cine Cultura, um local para o qual todos os elogios são insuficientes, e por me identificar tanto com os temas tratados pelo filme, sinal de que o amor pelo cinema e pela literatura continuam vivos dentro da minha alma de cinéfilo e de escritor.

Genius (2016) Jude Law and Colin Firth

Los Angeles – Cidade Proibida (1997)

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Los Angeles - Cidade ProibidaO feio e o belo, o vil e o honesto e a mentira e a verdade confundem-se constantemente nesse Los Angeles – Cidade Proibida. A trama, uma mistura de ficção e realidade protagonizada por personagens cheios de contradições, trata de desconstruir a imagem glamourosa e onírica de uma das mais famosas cidades americanas. Baseado em um romance do escritor James Ellroy, o diretor Curtis Hanson nos dá uma boa visão de parte da podridão envolvendo corrupção, violência policial, tráfico de drogas e prostituição que residem debaixo do tapete de Los Angeles e, durante o processo, nos entretém com elementos de metalinguagem e uma clássica história de detetive.

É natal. As casas estão enfeitadas e os corações estão cheios de boas intenções, mas quem olhar um pouco mais atenciosamente perceberá a tensão que há por trás daqueles sorrisos regados a champagne. A prisão do gângster Mickey Cohen deixou vago o posto de rei do crime de Los Angeles e agora todos estão ansiosos para saber quem o sucederá e como isso será feito. Nesse cenário pré-conflito, três policiais vivem seus dilemas pessoais na noite natalina.

  • Jack Vincennes (Kevin Spacey), um homem egocêntrico e corrupto, faz um acordo com o dono de uma revista de fofocas (Danny DeVito) para que ele acompanhe-o num flagrante de uso de drogas de um famoso ator de Hollywood, de modo que ele possa estampar as manchetes policiais do dia seguinte.
  • Bud White (Russell Crowe), um sujeito conhecido tanto por sua truculência quanto por sua sensibilidade com as mulheres, realiza uma prisão por violência domiciliar e depois para em um bar para comprar bebidas para a festa que o aguarda no fim do expediente. Enquanto aguarda o atendimento, Bud presencia uma situação suspeita envolvendo um homem e uma garota com o nariz enfaixado e o episódio torna-se o início de uma longa investigação.
  • Ed Exley (Guy Pearce) é um jovem determinado que está ingressando na polícia. Para superar a sombra do pai, que foi uma referência dentro da corporação, ele está disposto a fazer o que for necessário para conquistar a confiança de seus superiores, inclusive denunciar os corriqueiros abusos e desvios de conduta de seus colegas de profissão. Quando Jack Vinceness e Bud White envolvem-se em uma briga generalizada com um bando de detentos, Exley recebe a chance de subir alguns degraus rumo ao topo da hierarquia da instituição.

Los Angeles - Cidade Proibida - CenaEm suas poucas mais de 2 horas, Los Angeles – Cidade Proibida entrelaça a história dos 3 policiais e mostra como seus destinos foram moldados por suas fraquezas de caráter e pelas forças superiores que estavam em jogo naquele período. A queda de Mickey Cohen provoca uma guerra na cidade e somente no final é possível descobrir quem de fato estava manipulando todos para chegar ao poder (o que acontece em uma daquelas reviravoltas clássicas de roteiro), mas fica bem claro que, independente de qualquer armação que fazem contra os personagens, são eles os grandes responsáveis por todas as desgraças que caem sobre suas cabeças.

Los Angeles - Cidade Proibida - Cena 3Trabalhando então com o que convencionou-se chamar de “personagens cinzas”, sujeitos que não são nem bons nem ruins, o diretor faz-lhes trilhar um longo caminho através dos cantos mais obscuros de Los Angeles antes que eles possam encontrar a redenção. A história de Vinceness é um pouco mais “rápida” e menos interessante do que a dos outros (o passado dele é pouco explorado), mas é acompanhando-o pelos bastidores dos estúdios que encontramos algumas das melhores referências ao período que ficou conhecido com a Era de Ouro de Hollywood. A prisão que o personagem efetua logo no começo, por exemplo, é uma bem elaborada recriação de um escândalo envolvendo o ator Robert Mitchum (de O Mensageiro do Diabo), que foi detido na vida real por posse de drogas.

Los Angeles - Cidade Proibida - Cena 4Bud e Exley, que no início parecem entender a lei de formas completamente distintas, acabam revelando afinidades e, ainda que não seja exatamente uma surpresa o fato de eles acabarem unindo forças, é bem legal ver caras com interesses tão diferentes trabalhando juntos. Exley é detestável, mas é inegável que ele protagoniza a melhor cena do filme (a engenhosa sequência do interrogatório) e que, quando necessário, ele sabe deixar os melindres da burocracia de lado para explodir alguns bandidos com uma poderosa espingarda. Já Bud, que nos é apresentado como um barril de dinamite ambulante, mostra um lado mais emotivo ao revelar o porque de seu protecionismo para com a as mulheres e então engata um romance com a bela Lynn Bracken (Kim Basinger), mas isso não o impede de despejar toda a sua raiva no tiroteio mortal que encerra o filme.

Los Angeles - Cidade Proibida - Cena 5Los Angeles – Cidade Proibida tem todos esses bons personagens cujas incoerências refletem aqueles problemas que os cartões postais das cidades ignoram e é bem gostoso de ser assistido pela presença constante de elementos da história de Hollywood (há um bordel na cidade cujas ‘funcionárias’ são todas sósias de atrizes famosas como a Rita Hayworth) e pela pegada de investigação policial que rende boas cenas de tiroteios e interrogação. Achei o desfecho dado ao Bud White meio improvável e fiquei um pouco impressionado com a aparente facilidade com que alguns bandidos fogem da prisão em um determinado momento, mas o saldo é positivo e, no término da sessão, é possível entender porque o filme concorreu a impressionantes 9 Oscars na cerimônia de 1998 (levou 2: Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Roteiro Adaptado) e porque ele aparece na respeitável 100º posição do Top 250 do IMDB.

Los Angeles - Cidade Proibida - Cena 2

Homem de Ferro 3 (2013)

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Homem de Ferro 3Na última sexta-feira (26/04), estreou oficialmente o tão aguardado Homem de Ferro 3. Eu não estava exatamente ansioso para assistí-lo (explico o porque na sequência), mas resolvi encarar a árdua tarefa de conseguir um ingresso para o blockbuster que sem dúvida alguma lotaria todas as salas disponíveis no dia. Cheguei no Cinemark local por volta das 19:30 e comprei ingressos para a sessão que começaria as 00:10. Paciência, lanche e uns 3 canecos de chopp fizeram os ponteiros do relógio marcarem 23:40, momento em que fui para a fila do caixa, comprei minha pipoca e refrigerante (pagando 1 real a mais por um copo promocional ultra descolado do super herói) e então me apresentei para o atendente do cinema com os ingressos na mão. Senhor, o seu ingresso é para amanhã. Respira, contém a vontade de descontar a raiva e a frustração em quem não tem nada a ver com o erro e vai falar com o gerente que, por uma feliz coincidência, era quem havia vendido o tal ingresso. Uns 10 minutos de ironias e acusações depois, saí do cinema e voltei para a minha residência levando no bolso o dinheiro que eu tinha pagado pelos ingressos e duas cortesias para assistir o filme no domingo (28/04). Moral da história? Nenhum, foi só um desabafo mesmo.

Eu gosto do Homem de Ferro mas não gosto dos filmes dele. Não falo como aquele fã chato que leu todos os quadrinhos do personagem, aquele cara que senta na poltrona do cinema louco para colocar defeitos no filme. Antes da estréia do primeiro longa do Jon Favreau, eu conhecia-o apenas através dos jogos de videogame da Capcom e de algumas matérias da revista Herói. Estou, portanto, no grupo de pessoas que amaram o Tony Stark do Robert Downey Jr. e que, principalmente devido a performance do ator, passaram a interessar-se pelo personagem e suas aventuras.Homem de Ferro 3 - Cena

Homem de Ferro e sua sequência tem alguns dos melhores efeitos especiais já usados em filmes de super herói. O primeiro ainda traz a seu favor as ótimas cenas que apresentam as habilidades de voô e combate do personagem e o segundo fez um ótimo trabalho ao preparar terreno para o longa Os Vingadores. Não nos esqueçamos também da excelente trilha sonora composta por clássicos do AC/DC e Queen. O meu problema com os filmes eram as cenas de ação e, principalmente, os vilões. A pancadaria com capangas genéricos rolava solta na série mas a edição frenética nos permitia ver muito pouco no meio de todos aqueles tiros, explosões e fumaça. Já os vilões, apesar de possuírem visuais e discursos afiados como o do Whiplash, não eram bem aproveitados naquilo que deveria ser o clímax da história, o embate com o herói, visto que essas lutas eram extremamente rápidas, pouco criativas e, por isso mesmo, frustrantes. Esse mesmo “erro” também pode ser visto no filme do Capitão América (lembram da luta sem vergonha dele com o Caveira Vermelha?) mas, como foi 100% corrigido no Os Vingadores, era de se esperar que a terceira parte da franquia também melhorasse nesse quesito.

Mandarin?

Mandarin?

Em Homem de Ferro 3, Tony Stark (Downey Jr.) tem que enfrentar as consequências do seu estilo de vida. A arrogância e a soberba do personagem acalentam o berço do vilão chamado Mandarin (Ben Kingsley), o qual inicia uma série de ataques terroristas em solo americano, destruindo inclusive a caríssima mansão Stark. Derrotado dentro de sua própria casa e sem seus trajes e tecnologia, Tony começa uma jornada de reaprendizado para salvar o país e sua amada Pepper Potts (Gwyneth Paltrow).

Apesar de não ter dado tanta atenção para a trilha sonora como seu antecessor, o diretor Shane Black manteve o nível altíssimo dos efeitos especiais da série: Homem de Ferro 3 tem pelo menos 2 sequências de ação de “tirar o fôlego”, a saber o ataque à mansão e o resgate do avião presidencial, coisas finas mesmo. No resto das 2h10min do filme, acompanhamos Tony Stark, sem a armadura, procurando reerguer-se após o ataque do Mandarin e de seu “comparsa” vivido pelo Guy Pearce. Disso eu não gostei.

IRON MAN 3

Não há dúvida de que o grande responsável pelo sucesso do personagem seja o Downey Jr. e suas piadinhas irônicas. Eu mesmo gosto disso. O problema é que pegaram o que antes era um delicioso complemento para a história e praticamente fizeram um filme sobre isso. Homem de Ferro 3 é demasiadamente voltado para o personagem fora da armadura, uma aposta do tipo “vamos investir no que público gostou” que revela-se tediosa em vários momentos pelo excesso de situações cômicas.

O erro com o vilão repete-se e acaba sendo o pior da série. A reviravolta com o personagem do Ben Kingsley conduz a um fim previsível com uma batalha gigantesca, repleta de personagens, onde, de fato, só dois deles importam. Homem de Ferro e seu inimigo travam uma luta de dificuldade improvável para o herói enquanto coisas explodem e queimam no fundo. Patriota de Ferro, que ocupa uma infeliz posição de alívio cômico, tem mais problemas do que deveria para vencer seus inimigos, no fim o bem triunfa sobre o mal, explodem os fogos de artifício mais caros da história e os créditos surgem.

Homem de Ferro 3 - Cena 3

Shane Black errou a mão no desenvolvimento do personagem. Após dois longas, não é exagero pisar no freio das cenas de ação para concentrar-se mais no lado humano do herói, lado esse, aliás, que o público gosta. O exagero é considerar que investir nisso, sem corrigir os problemas dos filmes anteriores, bastaria para garantir uma boa continuação. Foi isso que eu vi na tela. Saindo na esteira do sucesso avassalador do Os Vingadores e contando com um personagem carismático, Homem de Ferro 3 já nasceu como um hit. Bom para quem lucra com ele, péssimo para quem, mais do que ser entretido, espera ser surpreendido.

Homem de Ferro 3 - Cena 4

Prometheus (2012)

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AVISO: Gostei muito de Prometheus e o considero, ao lado do Os Vingadores, como o melhor filme do ano. Se ainda estiver em cartaz em sua cidade, vá assistí-lo no cinema, vale muito a pena. Caso você ainda não tenha assistido e não goste de SPOILERS, não recomendo a leitura do texto: há certas coisas na história sobre as quais eu simplesmente PRECISO comentar e isso pode estragar algumas surpresas. Aviso dado, vamos então ao roteiro do tão comentado retorno do diretor Ridley Scott ao universo da ficção científica.

Quem assistiu o trailer do longa certamente deve lembrar-se que anunciavam-no como “Do diretor de Gladiador e Blade Runner“, anúncio esse que visa dois públicos distintos: o espectador de final de semana lembrará-se das lutas do General Maximus e os mais dedicados, além de saberem que a carreira do Harrison Ford não foi feita só de Star Wars e Indiana Jones, notarão que a jóia da coroa da filmografia do Ridley Scott foi deixada de lado. Assim como não tenho a menor dúvida de que série Alien é mais conhecida do que o Blade Runner, também não tenho dúvida de que deixaram o nome dos alienígenas de lado no trailer em uma tentativa de não entregar parte das muitas surpresas do filme. É claro que, em tempos de internet, um “segredo” desses não passaria despercebido e, muito tempo antes da estréia, qualquer pessoa que acessa sites sobre cinema já sabia que Prometheus  funcionaria como um prelúdio para o Alien – O Oitavo Passageiro, primeiro filme da série e o único até o momento dirigido pelo Ridley Scott.

O trailer, aliás, também não era sincero em outro aspecto: no gênero. Ao contrário do que tentaram vender, Prometheus não é um filme de terror, pelo menos não mais do que o era o primeiro Alien. O foco aqui não é o “monstro” em si ou o estrago que ele possa causar, mas sim o mistério que o cerca e todas as possibilidades que o fato de estar em um mundo completamente diferente trazem. O tal “mistério”, aliás, começa logo na primeira cena, momento onde o branquelão acima contempla o infinito do alto de uma cachoeira e, após consumir uma matéria negra, morre e cai na água. O DNA do sujeito começa a sofrer mutações, desenvolver-se para estruturas cada vez mais complexa e… temos aí o início da vida, esse sujeito é o nosso Deus!

Durante a sessão, eu ouvi uma menina que estava sentada na fileira de trás dizer “que filme difícil de entender!” e, no final, uma outra declarou “os efeitos especiais são bons, mas eu não entendi nada”. Prometheus, enquanto história tradicional com começo, meio e fim é um filme atrativo, os efeitos especiais realmente são muito bons (eu adorei aqueles trecos que emitem luzes vermelhas para mapear a caverna) e o elenco que contém nomes como Charlize Theron, Noomi Rapace, Michael Fassbender e Guy Pearce não poderia ser melhor. Não trata-se, no entanto, de cinema entretenimento, daquele tipo de filme para tu assistir, sair da sala de cinema e esquecer. Ridley Scott debruçou-se sobre algumas questões existencialistas que não são do interesse de todos e, por isso mesmo, não serão compreendidas por todo mundo, mas realmente vale a pena perguntar-se o que aqueles personagens e situações representam dentro da trama. Eis o que, na minha humilde opinião, é dito em Prometheus.

Nós não somos frutos do criacionismo muito menos de um lento processo de evolução iniciado pelo Big Bang. A vida na Terra começou quando o braquelão morreu e teve seu DNA misturado com a água e outros elementos de nosso planeta. A substância negra que o mata, aparentemente, seria o mal em essência, mal esse que é misturado ao conteúdo genético do alien e que iria ser parte da constituição da vida na Terra, ou seja, houve uma falha, um erro no momento da criação que é a responsável direta por toda a maldade existente no mundo. Várias civilizações, de uma forma ou de outra, identificaram os aliens como sendo nossos criadores e registram isso através de desenhos e pinturas que, milhares de anos depois, foram descobertos pela tripulação da nave Prometheus. Identificadas como um mapa estelar, as estrelas desenhadas pelos seres primitivos de nosso planeta são utilizadas para justificar uma viagem para outro planeta em busca de nossos criadores. O problema é que nossos criadores não ficaram satisfeitos com o trabalho que eles fizeram e estavam dispostos a retornar aqui para recomeçar… do zero.

A equipe do Prometheus encontra então nossos deuses hibernando em um outro planeta, mas encontra também a essência do mal que comprometeu nossa criação. Essa essência é misturada novamente ao DNA humano em uma tentativa do andróide David (Michael Fassbender) de encontrar algum sentido para sua vida, de ser ele mesmo um deus. O experimento, que é abortado em uma cena agoniante protagonizada pela cientista Elizabeth Shaw (Noomi Rapace), dá origem a uma outra espécie, mais malévola ainda, que, no final, consumindo ela o corpo de um dos nossos criadores, dá origem ao Alien que nós conhecemos, um misto de divindade, humanidade e maldade pura que alguns anos depois seria o oitavo passageiro de uma aeronave qualquer.

Nós, portanto, somos o produto de um erro e, por isso mesmo, nosso deus (ou deuses) tentam nos destruir. O retorno a ficção científica do Ridley Scott, além de produzir cenários lindíssimos enriquecidos pelo uso do 3D, coloca em debate o conceito de perfeição divina e do livre arbítrio. Cada um entenderá algo e acreditará no que quiser (ou no que o seu conhecimento lhe permitir), mas é inegável que a discussão é sempre positiva. Por tudo isso, afirmo que Prometheus é um dos mais importantes e instigantes filmes do gênero dos últimos tempos.